Wednesday, July 29, 2015

“Aquela Igreja”- António Severino (Eu Não Conhecia Isto)




E de repente, começam a pedir esta música nos discos pedidos. Até há uns dois dias atrás, eu não conhecia isto.

Agoira tive uma ideia luminosa, era de valor eu começar aqui a tecer comentários sobre algumas letras curiosas de alguns fados, essencialmente. Tenho ouvido cada um! Então a Amália Rodrigues (que também escrevia as suas próprias letras) tem uma série deles. Para já, começo com esta.

Trata-se de uma letra típica do quotidiano português. Música mais portuguesa não pode haver. Quando a mulher lhe disse pela milésima vez que ia até à igreja, logo o homem lhe deve ter perguntado pela enesima vez: “então que pecados tens tu para tanto te penitenciares?”.

Desconfiado, o homem segue a mulher até à igreja, que depois foi despromovida a capela algures no decorrer da música. Mesmo que ele diga na letra que foi para fazer uma surpresa à mulher, nós obviamente não acreditamos. Ele terá seguido a mulher porque já andava com a pulga atrás da orelha. Talvez tenha ouvido rumores pela rua, ou então as pessoas olhavam-no de lado.

E lá foi ele atrás da sua amada, não fosse talvez ela encontrar-se com o padre, coisa que também se usava muito cá por estas bandas. Mas eis que ela não entra na igreja. Entra na porta em frente. A porta abre para a mulher entrar e fecha muito rapidamente. O protagonista fica do lado de fora. Mas o raio da porta é de madeira de má qualidade. Ouve-se tudo o que se diz lá dentro do lado de fora. Ou então as pessoas que la estão falam muito alto. Não imaginam que está alguém a escutar.

O protagonista fica destroçado. Para além de ter descoberto a traição da mulher, eventualmente ficou a descobrir que era só para ele que ela tinha dores de cabeça sempre que chegava a hora de ir para a cama.

Desce ele as escadas completamente de rastos psicologicamente e vai à igreja. Agora, por causa das coisas, havia de chegar lá e virem o padre e o sacristão e perguntarem-lhe:
- Então a sua mulher hoje não vem?

Enfim, uma situação tipicamente portuguesa de uma sociedade aí dos anos sessenta. Isto dava um sketch, uma cena de um filme, de uma novela…dava para muita coisa. Neste caso deu para uma canção.

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