Wednesday, December 03, 2014

Vão trabalhar, que é para saberem o quanto custa a vida!

Ouvia as notícias ontem e, a certa altura, o bloco noticioso fechou com uma notícia curiosa que nos chega da China. Parece que o governo chinês quer obrigar os artistas, apresentadores de televisão e afins a passar uns tempos no campo a trabalhar no duro. Segundo os governantes chineses, os artistas sujeitos a condições humanas menos favoráveis serão mais criativos, logo as suas obras terão mais qualidade.

Os artistas e escritores serão colocados em comunidades de trabalhadores rurais e trabalharão de sol a sol nas lides do campo, sujeitando-se à dureza dessas tarefas. Se sobra ou não tempo para depois eles trabalharem um pouco nas suas obras, aplicando a criatividade que alegadamente ganham trabalhando no duro, isso já depende do quão cansado chega cada um no final do dia. Se calhar, tendo descansado a mente, os criadores chegam à noite com a mente a fervilhar de ideias e é isso que os governantes querem.

De certa forma compreende-se o que os governantes chineses querem. Estando a praticar um exercício mais físico como trabalhar arduamente no campo, os artistas libertam assim a mente daquela responsabilidade de estar sempre a toda a hora a criar. Com tal descanso, talvez a criatividade seja mais aguçada quando o artista mais precisa dela, na hora de ter ideias para os seus romances, os seus quadros, as suas canções ou os seus programas televisivos.

Não deixa de ser engraçado imaginar estes artistas na apanha do arroz desde que o sol nasce, até que escurece. As suas mãos mimosas mexendo na terra, colocadas lado a lado com as mãos já calejadas e maltratadas pelo tempo de quem não conheceu outra realidade fora do meio rural contrastam fortemente. Os corpos rudes dos trabalhadores rurais que carregam grandes sacos de cereais opõem-se aos corpos mimosos e pouco ágeis dos artistas que não poderão com uma gata pelo rabo.

Chega a noite. Extenuados de mais uma jornada de lide rural, os artistas rabiscam nos seus blocos os seus desenhos e as suas palavras. Começam por transcrever o que viveram, o que estão a viver, como estão a tentar ultrapassar as dificuldades. A mente vai vagueando, outros pensamentos surgem. A imaginação agora está com rédea solta e novas obras surgirão.

Cá pelo burgo, essa moda não pegará mas sempre dava a sugestão que, aqui por Portugal, deveriam ser os próprios políticos a trabalhar no duro, no campo, nas obras ou nas fábricas. Podia ser que tivessem mais criatividade para governar o país.

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