Sunday, July 31, 2011

Mudança para Fátima

“Olha, Pedro, sonhei que me ia mudar para a tua terra e não estava a encarar essa mudança de forma positiva. Sentia que não iria ser feliz por lá. Não me agradava mesmo nada ter de deixar tudo para abraçar ali um novo desafio.”

Foi assim que, no dia seguinte, contei este episódio curioso ao meu amigo nascido e criado em Fátima que estava a passar férias comigo em S. Martinho do Porto. Segue o relato desta viagem onírica que nunca quis fazer. Terá sido por causa dele que o meu subconsciente me levou até Fátima.

Um dia deram-me a notícia de que iria viver, estudar e trabalhar...em Fátima. Desde então, um pouco contrariada, dediquei-me a investigar transportes regulares para ir até lá. Na realidade, encaro as mudanças com alguma apreensão mas esta estava a ser recebida com bastante angústia e receio.

Por uma vez fui de comboio, sentada no exterior, no espaço entre uma carruagem e outra. Aquela viagem havia sido um suplício, pois estava cheia de medo de cair.

Da segunda vez já fui de autocarro. Era a viagem definitiva. Levava comigo já a bagagem que a minha mãe cuidadosamente me preparou. Em ambas as viagens, o meu medo era distrair-me com o caminho e ir parar a outro local que não era o meu destino. Ainda não dominava as referências e isso era um enorme problema.

Lembro-me de termos parado junto aos Arcos em Coimbra, sinal de que faltava ainda muito para percorrer.

Iria ser uma vida nova, um local novo que ainda precisava de conhecer bem. Tudo iria mudar agora e eu estava bastante apreensiva e nervosa, como sempre estou em relação às mudanças. E arranjar alojamento tão em cima da hora? Isso ia ser um problema enorme.

Cheguei finalmente ao edifício onde iria estudar...Música. Aflita para urinar, a primeira coisa que fiz foi procurar uma casa de banho para aliviar a bexiga. A viagem havia sido longa e sem paragens. A primeira aula começava dali a nada. Os nervos aceleram-me também a actividade renal.

Enquanto estava na casa de banho, ia notando que o chão ia ficando cada vez mais inundado. Seria água? Seria urina? Estaria a sanita rota e urinava para o chão? Em pânico, tive de arregaçar as minhas calças pretas que já se começavam a molhar.

Foi com as calças arregaçadas quase até ao meio das canelas que entrei na sala de aulas. Ia bastante atrasada. A turma toda já estava comodamente sentada e começou a olhar para mim de lado. A forma desajeitada como a Toupeira Dum Raio entrou e andava a procurar o lugar, bem como a forma como se apresentou, chamaram logo a atenção. Que ridícula me senti!

Pior do que ser olhada com ar de gozo por uma turma inteira, aquele professor intimidava-me. Não sei explicar porquê mas antipatizei com ele logo no primeiro olhar que trocámos.

O quadro daquela sala era dos verdes, com as linhas para se escrever Música. Na ESEC havia quadros desses e muitas vezes tínhamos lá aulas. À minha espera já se encontravam partituras, se é que isso se chama mesmo assim. São folhas de Música já com as claves, as colcheias e outros símbolos musicais dos quais não me recordo. Somente no ensino preparatório é que eu tive Educação Musical. Ainda sei tocar um pouco de flauta mas não me recordo de como se liam as notas musicais.

À minha frente estava uma fotocópia com símbolos musicais. O quadro também tinha lá algo escrito que eu não conseguia ler. Depreendi que aquilo era para ser passado para o caderno de Música.

Para meu terror, o docente mandou-me ler aquilo. Eu não percebo um chavo de Música! E agora? Que fazer nesta situação? Estava bastante infeliz e questionava-me sobre o que estava eu ali a fazer. A turma aguardava e já se ouviam cochichos e risinhos maldosos. O professor olhava-me com arrogância e preparava-se a todo o momento para me gozar.

O professor interrogou então uma outra rapariga de nome Jéssica que estava sentada do outro lado da sala. Também ela não conseguiu ler aquilo. Indignada, peguei nas minhas coisas e regressei a Coimbra nessa mesma tarde.

Que bom voltar a casa! Era já noite quando cheguei à minha santa terrinha. Detive-me no espaço entre a minha casa e a casa dos meus vizinhos. O irmão do meu vizinho havia chegado do Luxemburgo. Veio de propósito para ver a Selecção Nacional jogar em Coimbra. Com esta azáfama da ida para Fátima, nunca mais me lembrei do jogo.

Ele tinha trazido equipamento diverso da Adidas. Eram muito bonitas, aquelas coisas. Ele deu aquilo tudo ao meu pai e eu fiquei sem nada. Fiquei mesmo desapontada. Eu que já vinha com a moral tão em cima...


P.S.:: Estes sonhos todos que se seguem tiveram a particularidade de se terem realizado parcialmente nos dias que se seguiram. Na véspera havia sonhado com um edifício com um corredor muito amplo, diversas portas e onde o cinzento abundava. Nesse corredor encontrava alguns médicos de bata branca. Dias mais tarde, encontrei-me nesse mesmo espaço. Fiquei embasbacada pela forma como o meu subconsciente me deu uma imagem quase exacta de um local onde eu jamais tinha estado antes. A casa de banho deste sonho é uma alteração onírica da existente nesse edifício. Não havia água no chão mas envergava a mesmíssima indumentária com que me vi no sonho. Também tive de fazer uma viagem de Expresso. O destino foi Lisboa.

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