Saturday, July 07, 2007

Quando o coração chora...eu triunfo

Este é, provavelmente, o sonho mais confuso (e provavelmente também o mais bonito) que aqui está relatado neste meu blog. Provavelmente também será o mais longo.

Lembro-me que nesse dia, mal cheguei ao trabalho, tratei logo de o transcrever para o meu caderno azul de apontamentos que depois irão dar todos os textos que aqui aparecem escritos.

Ora aqui vai o que eu me fartei de apontar naquela manhã de quinta-feira: tinha chegado numa segunda-feira de manhã á Piscina para iniciar mais uma semana de trabalho. Fiquei apreensiva, pois tinham trocado os cacifos todos. Passaram a dar as chaves amarelas aos homens e as chaves azuis às senhoras. E habituar-me a tal ideia! Adivinhava-se confusão da boa!

Pela tarde, o Sol batia dentro da recepção e emprestava ao local um dourado, mesmo cor de fogo que inspirava uma pessoa a se sentir bem ali. O meu colega falava de Futebol. Os quatro golos de Bueno ainda eram o assunto dominante. Já tínhamos TV Cabo e, na Eurosport, assistíamos a uma estranha luta entre um morcão todo vestido de negro e outro vestido de amarelo. Um carregava o outro às costas. Era estranho mesmo!

Passamos para algo que não tem mesmo nada a ver com isto. Os sonhos são assim. De uma situação concreta, podemos passar para outra completamente a despropósito. Pois bem, havia- imagine-se- um teste de Português. Um estranho teste de Português! Já alguma vez viram um teste, ainda por cima de Língua Portuguesa, em que não tivéssemos de escrever, apenas colocar cruzinhas? Só mesmo em sonhos! Mas esperem! Não se admirem antes do tempo porque ainda há mais. Aliás, este sonho…

Voltemos ao teste que eu estava a fazer não sei a que propósito, nem por alma de quem: numa das perguntas (isto é demais) tínhamos de assinalar com uma cruz o adjectivo que melhor caracterizava (que disparate!) uma almofada. Depois de muito esturrar neurónios de tanto tempo que estive a pensar, cheguei à conclusão de que tinha de assinalar todos. Qualquer um dos adjectivos ali presentes na resposta se adequava perfeitamente a uma almofada. Das hipóteses já não me lembro.

Ainda relacionado com aulas (tema dominante deste sonho) encontrava-me num corredor da Faculdade de Letras, embora alterado oniricamente. A minha prima andava por lá a remexer nos caixotes do lixo como a mãe costuma fazer. Eu sempre lhe fui dizendo que não a conhecia de lado nenhum por causa do seu comportamento repugnante.

Agora vem aquela parte que eu me admiro de ter sonhado. Sempre há cada coisa mais estranha no mundo dos sonhos! Estranhíssimo isto! Regressei á Escola Primária de Vale de Avim (local que eu frequentei durante seis anos e de onde saí ai há uns vinte). Nos meus tempos de escola, raramente ia brincar para o recreio. Preferia ficar junto da professora que tricotava junto a um aquecedor. Pegava nos livros que estavam nas estantes e folheava-os. De vez em quando lia alguns. Os que eu achava mais interessantes. O verdadeiro gosto pela leitura, adquiri-o mais tarde quando passei a devorar os livros da colecção “Uma Aventura”. Ainda hoje os gosto de ler e ando a tentar reuni-los todos na minha própria estante.

Foi com essa estante e com esses livros que fizeram parte dos meus tempos de escola no passado que eu sonhei. O tempo passou implacável por aqueles livros que fizeram as minhas delícias de infância. Já tinham as folhas envelhecidas e as suas capas estavam bastante danificadas. O pó dos anos marcava a sua presença.

Quase todas as obras tinham as capas arrancadas e as folhas soltas. Era difícil pegar-lhes. A própria estante também estava já velhinha e os livros estavam precariamente colocados. À medida que eu ia tirando um, todos os outros ameaçavam cair e desfazer-se no chão. Notei que havia imensos livros da colecção “Uma Aventura”. Nem outra coisa seria de esperar numa escola que se preze. No tempo em que eu lá andava, parece que não havia nenhum. Nem sei se já existiam. Afinal não eram muitos. Era sempre o mesmo livro- “Uma Aventura No Algarve”. Não havia um único livro que estivesse inteiro e em condições de ser lido.

Naturalmente que os restantes livros já não me diziam nada, ao contrário de antigamente. Aos trinta anos tenho outros interesses. Apenas gosto de ler esses da Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

Apenas um livro me chamou a atenção, talvez por ser estranho encontrá-lo ali numa escola primária. Era um dicionário de…Irlandês- Inglês! Se calhar com palavras de Gaélico (dialecto falado na Irlanda) e as suas correspondentes em Inglês.

Um senhor que eu não conhecia e que se encontrava também junto à estante disse que tinha conhecido um irlandês de Washington. Eu disse que esse senhor era americano e não irlandês, pois também o conhecia. Disse-lhe isso enquanto ia pensando numa ocasião em que o encontrei numa rua bastante movimentada, não sei onde. Havia imenso trânsito a passar numa rotunda. Já era noite.

O velho quadro preto da escola resistiu ao tempo. Nele estavam escritas estranhas palavras que eram bem extensas e quase ilegíveis, com muitas consoantes seguidas.

Uma colega minha (não me lembro quem) tinha uma linda bebé que vestia de cor de rosa. Brincava com ela. Meti-a num saco de livros que trazia, mas logo a tirei e comecei-lhe a fazer cócegas.

Eu calculo que estarão já a perguntar (depois de toda esta confusa descrição) qual a causa do título deste texto. Pois bem, aqui vem a explicação, juntamente com a parte mais bela deste sonho, embora continue a ser confusa.

Eu e os meus restantes colegas do curso de formação da ACAPO participávamos numa festa daquelas que costumamos fazer pelo Natal ou por outra ocasião. Na Festa de Natal de 2005 fizemos um desfile de moda com material reciclável. Eu até tinha um equipamento desportivo azul e laranja feito de plástico.

Aqui era também um desfile mais estranho que esse. O local era o pavilhão da Escola Secundaria Avelar Brotero. Pelo menos foi esse o local que eu mais facilmente associei a esse, pelo piso e pelo palco que tinha em cima, apesar de oniricamente alterado com umas escadas que parece que iam dar a lugar nenhum. Descíamos e subimos porque tinha de ser.

O local estava rodeado de público que assistia sentado no chão ao nosso louco desfile. Havia apenas um estreito corredor por onde nós desfilávamos por entre a multidão que nos avaliava.

E qual era o programa da festa? Era um desfile, já disse. Mas que tipo de desfile? Isso já é mais difícil de responder. Sei que era um desfile. Pessoas que se exibem para o público na minha terra é um desfile. No entanto este…

Ora vamos cá descrever esta coisa: tínhamos de desfilar com (imagine-se) árvores pesadíssimas às costas. Algumas tinham grossos troncos. Só mesmo em sonhos! Na vida real não vejo qualquer tipo de utilidade nisto. Se o do plástico era para mostrar o que se conseguia fazer com este tipo de material, este das árvores não era para alertar para o abate de árvores na floresta. Certamente que não. As árvores que carregávamos com dificuldade ainda contribuíam mais para essa chacina. Cada pessoa tinha de desfilar três vezes com uma árvore diferente. Só á minha custa tiveram logo de cortar três árvores. E pesadas que algumas eram!

Envergávamos a nossa roupa normal, com a condição de trocarmos de vestuário de cada vez que desfilávamos. Também desfilávamos ao som de três músicas diferentes. Se calhar essas músicas eram escolhidas de forma aleatória e não deve ter havido ensaio prévio. Era tudo de improviso. Já vão ver o que se passou!

Era duro termos de subir e descer as escadas com altos troncos às costas. O público incentivava, mas era sofrível carregar com aquilo. Por mais agradável que fosse a música que era, pelos vistos, a que calhava e a que apetecia ao pessoal colocar na instalação sonora. Eu que o diga! Esperem!

Não me lembro do primeiro tema musical que me calhou. De todo! Da segunda lembrava-me, mas assim que acordei esqueci-me. Era uma música conhecida. Pelo menos no sonho eu conhecia-a. Não sei se ela existe na realidade, mas a ideia vaga que eu tenho é que existe mesmo. Já na altura me surpreendeu ter desfilado com essa banda sonora. Nessa segunda passagem trazia uma árvore que carregava com extrema dificuldade, especialmente no percurso das escadas. Tinha receio de cair.

Da terceira passagem lembro-me perfeitamente. Fiquei feliz por a árvore ser um pouco mais leve, no entanto fiquei surpreendida quando da instalação sonora soaram os primeiros acordes do tema cantado por Carlos Guilherme não me lembro com quem “Quando o Coração Chora”. Mas tinha mesmo de desfilar com essa música. Tinha de ser. Pois que fosse. Como foram lembrar-se de um tema tão antigo?

Com um rasgado sorriso e vestida de ganga azul clara, deslizei por aquele estreito corredor com passos seguros. Estava feliz. Tentei fazer um bonito. Enquanto durou aquele tema, parecia uma modelo profissional e distribuía sorrisos pelos presentes na nossa festa. Parece que fui a última a desfilar. O público aplaudiu-me de forma ruidosa.

No final foi dado o resultado. A vencedora fui eu com essa terceira actuação. A tal feita ao som do tema de Romeu e Julieta. Fiquei incrédula e nem sabia o que dizer quando tive de discursar para os presentes. Apenas disse que estava bastante feliz. Repeti a actuação. Já não era com os mesmos gestos porque tudo era de improviso e eu já não sabia como tinha feito.

Apenas lamentava o facto de ninguém me ter tirado fotografias para poder reviver aquele extraordinário momento. Acordei alegre e visivelmente emocionada. Chovia lá fora.

Talvez inspirada pelo sonho que tinha tido, vesti a camisola ao contrário e fui obrigada a um strip improvisado na paragem. Estejam descansados que apenas tirei o blusão e uma camisola de lã.

Na Piscina, os alunos de uma turma queriam presentear a sua professora de Ciências com algo que ela iria, certamente, adorar: uma salamandra.

Foi uma manhã calma. A chuva mantinha as pessoas em casa. Não havia a mínima vontade de sair á rua.

Mas há pessoas que preferíamos que não andassem na rua e se cruzassem connosco nos autocarros. Pessoas a quem a chuva até fazia jeito para tirarem o sebo e o lixo daquele corpo fedorento que mete nojo a quem tem o azar de as encontrar. Uma velha vinha de pé no autocarro, junto ao local onde eu estava sentada, com a carteira pendurada ao pescoço, tipo colar. Naquele caso era mesmo tipo coleira, mas nem os cães cheiram tão horrivelmente. O seu roliço corpo imanava um desagradável odor a bacalhau retrasado. Trazia um monte de sacos de compras que só estorvavam e que lhe dificultaram a saída do veículo. Mais adiante neste texto falarei de outro cromo que, por razões diferentes, se destacou no autocarro. Mas destacou-se mesmo!

A tarde foi igualmente calma. Apenas as escolas trouxeram um outro colorido à Piscina.

Quando cheguei a casa, Portugal perdia com a República Checa por um golo de diferença. O jogo era a final do Torneio Vale do Tejo. No entanto, a nossa equipa acabaria por vencer a competição.

Numa jogada de insistência em que o implicativo guarda-redes checo defendeu, o central Semedo fez o golo do empate e levou o jogo para as grandes penalidades. Aí, o nosso guarda-redes Paulo Ribeiro esteve em grande e garantiu o nosso triunfo.

Destaque para um programa que a RTP 1 transmitiu sobre as alterações climatéricas. Agora estou a ver que me enganei e escrevi um texto que deveria ser o seguinte mais atrás. É o que faz isto andar tão desactualizado! Não tem mal!

Situação do dia:
È o que eu digo! Basta viajar naqueles autocarros amarelos e brancos para se assistir e se encontrar cada cena. Depois da criatura pestilenta com a carteira ao pescoço e mil e um sacos plásticos a rodeá-la, eis que apanho novo cromo. A criatura falava alto demais ao telemóvel. Eu não queria estar no lugar do seu interlocutor do outro lado da linha. Estava já com os ouvidos a ferver (ou mesmo surdo) daquela conversa em alta voz. Aposto em como o diálogo estava a ouvir-se na rua e fazia mesmo concorrência aos altifalantes da campanha para o referendo do próximo domingo. Confundia-se mesmo com eles. Acho que deveriam contratar aquele homem para fazer barulho que poupavam em energia para os altifalantes. Se lhe pagassem, ainda melhor. Acho que ele para fazer barulho vinha mesmo de graça. Foi incrível como todo o pessoal ficou a saber a sua vida. Ficámos devidamente informados sobre o que é que a criatura foi fazer ao hospital. Falava ele de uma mulher sua familiar que só tinha um pulmão e que estava a oxigénio por o pessoal no hospital lhe ter dado maus-tratos. Uma das atrocidades mencionadas em alta voz pelo indivíduo foi que besuntaram o corpo da pobre senhora com óleo. Já ia com dores de cabeça só de ouvir aquela voz forte e uns decibéis acima do que é recomendado para se falar ao telemóvel. Se o interlocutor não era surdo…

Bacorada do dia:
“Vai sair o número 7?! OUTRA VEZ?!!!!” (Quantos números 7 tinham afinal os checos?!!)

2 comments:

GK said...

1.º - Estás a escrever cada vez melhor!
2.º - Também li a colecção "Uma Aventura" toda, embora tenha ganho o gosto pela leitura com o Tio Patinhas em português do Brasil! (Por isso andei 2 anos a fazer ditados em casa durante a Escola Primária! LOL)
3.º - Analisando partes desse sonho (e agora vou-me armar em Freud!) parece-me que tens saudades da tua infância, quando as coisas eram mais simples. Mas também deu para perceber que, embora a vida não seja fácil de carregar (os troncos eram pesados), se te decidires a ir em frente e puserem nisso toda a tua alma, consegues vencer! ;)
Foram só umas ideias que me ocurreram... ;)
Boa semana.

Anonymous said...

Obrigado por Blog intiresny