O pior inferno e os piores demónios são os que povoam a nossa mente. O inferno criamo-lo nós com os nossos medos, as nossas ideias paranoicas e uma certa dose de delírio ou loucura.
Em clara paranoia vivia o autor deste livro que estava a passar uma fase difícil da sua vida quando a mulher o abandonou e ele começou a aderir á febre da Química e dos alquimistas.
A partir de então, ele experimentou terrores noturnos, ideias fixas de perseguição, vendo perigo através dos mais inofensivos objetos como a forma dos travesseiros ao se levantar da cama e os carvões retirados da lareira.
Em tudo o que o rodeia vê presságios, maus agoiros e indícios de morte iminente. Não se passa nada.
Estava a ler isto e estava-me a lembrar que, pouco depois da minha avó morrer, comecei a experimentar episódios de ansiedade que perduram até hoje, embora estejam mais controlados. Já não entro em pânico sempre que ouço as corujas lá fora quando estou em casa dos meus pais. Antigamente, um pio que fosse, já não dormia.
E um cão a uivar? Lembro-me que o cão lá de casa- o dick- na véspera da morte da minha avó foi uivar para a janela do quarto que partilhávamos com ela. De outra vez que ele uivou, quem morreu foi ele.
Havia certos sonhos que me metiam confusão. Quando eu andava no liceu contava-os á psicóloga da escola sempre a temer algum acidente ou algo assim.
Muitas vezes eu passava as noites com o coração a querer-me sair pela boca e, logo pelas oito e meia da manhã, tínhamos Educação Física e corríamos á volta da escola. Estava tudo normal com o meu coração, inacreditavelmente.
Numa altura em que as doenças mentais não estavam tão aprofundadas, de referir que estávamos em 1896, a ansiedade, a depressão e os delírios paranoicos eram todos vistos á luz do Demónio. A loucura chamava-se simplesmente assim.
Hoje, ao ler isto, qualquer psiquiatra ou psicólogo ia concluir que este senhor sofre de ansiedade ou depressão. Nada de demónios. Nada de Inferno.
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