Tuesday, December 27, 2016

Uma peça de roupa, uma simples peça de roupa

No sonho não o conheci, apesar de ter sempre a vaga sensação de que o conhecia realmente. Mais, sentia-me, de certa forma, responsável por ele, por tudo o que ele fazia e que causava tanto rebuliço entre as pessoas de uma pequena localidade, essa sim, completamente inventada pelo meu subconsciente.

O protagonista existe realmente, algures, la longe. Chama-se Amr, mesmo assim escrito. Só muito tempo depois de acordar é que associei que se tratava do rapaz deste sonho. Aquele que conhecia bem naquele mundo para o qual nós entramos quando adormecemos e que é capaz de abolir distâncias e inventar pessoas que nunca vi e que se calhar até nem existem. Aquele mundo tão estranho e tão fascinante.

Eu já estava irritada porque andava a estudar e tinha teste de uma disciplina que aliava Matemática, Geometria, Lógica...essas coisas boas de que tanto gosto...Aquilo era tão complicado para a minha mente, que não fiz nem metade dos exercícios. Tinha de desenhar, calcular, raciocinar...tudo num curto espaço de tempo. O professor impiedosamente pediu-me que entregasse a prova mesmo assim como estava. Dava para chumbar na certa...e com zero.

Cheguei à rua e...lá estava este nosso amigo, o rapaz que eu somente conheço do Instagram e que ultimamente tem colocado likes nas minhas fotos. Reparava bastante nele e reconhecia-o pelos objetos que trazia. Via que as pessoas o olhavam de lado e com algum desconforto. Não percebi porquê. Eu dava por mim a observá-lo. Conhecia-o. Mas de onde? Não era propriamente um amigo chegado, tal como na realidade não o é. Simplesmente alguém que via passar.

Chegámos perto de uma casa onde supostamente havia roupa a secar. O estendal estava um desalinho. Havia peças de roupa apenas presas por uma mola e...dezenas de peças de roupa interior feminina espalhadas pelo asfalto. Aquilo era uma aldeia igual a muitas por onde passamos nas caminhadas.

Despudoradamente, os sutiãs da dona da casa pareciam sorrir para quem passava. Uns ainda se encontravam presos na corda da roupa. O grupo seguia todo. Ia eu no meio e...lá ia ele. Imediatamente todas as cabeças se voltaram para lá, acusando-o de ter espalhado a roupa pela estrada. Em suma, tudo quanto aparecia mal feito tinha sempre o mesmo culpado. Desta vez não era eu mas, de certa forma, sentia-me incomodada por tanto o incriminarem. E ele seguia cada vez mais atrás como se aquilo nada fosse com ele.

O burburinho subia de tom e eu saí a terreiro defendendo a minha dama...quer-se dizer...o cavalheiro. Fui dizendo que não havia mal em espalhar peças de roupa interior pela estrada fora. Que mal havia? Afinal, que diferença fazia expor as ditas peças de vestuário numa corda junto à estada ou no chão? Sem estar no corpo da sua dona, aqueles singelos trapos eram como quaisquer outros...ora essa!

Quando acordei lembrei-me deste verso: “ó sua descaradona, tira a roupa da janela, ao ver a roupa sem dona, lembra-me a dona sem ela”

Para além de me lembrar destes sábios versos do cançonetismo lusitano, também andei a ver se o meu amigo Amr por acaso tinha...alguma peça de roupa igual à que lhe vi vestida no sonho. Não tinha mas era ele claramente. Não sei como foi feito o casting para o meu subconsciente o escolher entre dezenas de jovens para protagonizar mais uma peripécia onírica.

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