Saturday, May 17, 2014

“Cobaias Humanas” (impressões pessoais)


Depois de ter lido o livro anterior que falava de um político norte-americano que se sujeitou voluntariamente a um tratamento inovador que ele próprio inviabilizou que fosse ministrado nos Estados Unidos, tive a ideia de prosseguir as minhas leituras com este livro que não é de ficção como o anterior.

Com Fernando Nobre (antigo presidente da AMI ) e o escritor John Le Carré a elaborar o prefácio , por força do seu livro “O Fiel Jardineiro” que abordava esta temática das cobaias humanas (também li esse livro há tempos), Sonia Shah aborda a temática sempre controversa do uso de seres humanos para testes de medicamentos para as mais variadas doenças que nos afligem nos dias de hoje.

Conforme fui lendo estas páginas, fui formulando algumas opiniões sobre esta temática que divide opiniões. Desde logo, se hoje usufruímos seguramente de medicamentos que nos permitem viver com o mínimo de qualidade de vida e sem sofrimento, é porque esse passo de os experimentar em seres humanos teve de ser dado. Foi um risco que se teve de correr mas a Humanidade tem de agradecer o arrojo de quem tentou fazer algo para que pudéssemos evoluir em termos de avanço científico e médico.

O problema reside em haver exageros que por vezes levam ao desrespeito pela dignidade humana, especialmente em países de Terceiro Mundo. As pessoas integradas nos testes devem sempre participar por livre e espontânea vontade. Nunca devem ser coagidas. Se elas aceitaram participar nos testes voluntariamente e algo lhes aconteceu, a responsabilidade é delas. O mesmo não acontece se as pessoas forem obrigadas, coagidas ou aliciadas com promessas grandiosas, como é fácil fazer a pessoas pobres de África.

Uma questão aqui que intriga um pouco é o uso de placebos em alguns testes, ou seja: testa-se um medicamento contra nenhum em vez de se testar o medicamento contra um semelhante que exista no mercado para a cura da mesma doença ou grupo de sintomas. Na minha opinião, penso que não se deviam usar placebos quando se testam medicamentos para doenças graves que ponham em risco a vida mas podiam-se usar placebos naquele tipo de doenças ou sintomas que não causariam a morte, como os medicamentos que hoje vemos por aí em todo o lado para as dores de garganta, para a azia, para a prisão de ventre, para a diarreia, para as alergias da Primavera e por aí fora. Estar a privar alguém com septicemia de um medicamento e estar-lhe a dar um placebo é condenável, no meu entender, visto tratar-se de uma doença que evolui muito rapidamente para a morte.

Se um dia me convidassem para fazer testes eu aceitaria? Penso que não mas também não me coloquei nas situações extremas dessas pessoas na África e na Ásia que não têm acesso a tratamento de doenças de outra forma. Se calhar, se estivesse numa situação de doença irreversível ou terminal, como forma de ainda ser útil neste mundo, talvez aceitasse. Iria morrer na mesma, que diferença fazia? Nas condições actuais não aceitaria.

Foi uma leitura sempre enriquecedora que leva a reflectir e a pensar um pouco, especialmente quando temos nas mãos um frasco de gotas, uma caixa de comprimidos ou um tubo de pomada. Para hoje eles estarem nas nossas mãos, tiveram de passar por rigorosos testes noutros seres humanos. Sem isso não os teríamos no mercado.

Vamos agora para a ficção pura e vamos voltar a Nora Roberts e a 2059. “Conspiração Mortal ” é a obra que já me encontro a ler.

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