Friday, January 31, 2014

Que seria de Coimbra sem as praxes?



Quem visita a cidade de Coimbra em inícios de Outubro, é envolvido por uma atmosfera única e inesquecível. O preto dos trajes académicos povoa as ruas, salpicado aqui e ali pelas cores garridas das roupas dos caloiros, muitas vezes envergando as cores da faculdade que os acaba de receber.

Cânticos berrados a plenos pulmões são entoados, abafando todos os sons habituais numa cidade normal. Vive-se um ambiente mágico, respira-se tradição, quem vive na cidade de Coimbra não pode deixar de sentir uma ponta de orgulho. A maioria de nós, que aqui vivemos e trabalhamos já passou por isso, também nós fomos protagonistas e fizemos parte destas tradições seculares. É com saudade que, ao ver a festa dos estudantes na rua, recordamos os tempos em que também nós fomos caloiros e fomos praxados, em que também nós praxámos os caloiros que entraram no ano seguinte e assim por diante, até que terminámos os nossos estudos.

São as tradições académicas que atraem ainda muita gente a Coimbra, à Latada, à Queima das Fitas, simplesmente a uma cidade com largas tradições e uma mística especial em termos académicos.

Agora imaginemos o que será desta cidade se o nosso Governo, reagindo a quente, proibir toda e qualquer manifestação de recepção ao caloiro? Simplesmente não estou a imaginar tal cenário, talvez porque nunca tenha visto a cidade de Coimbra sem o preto dos trajes e o som alegre dos caloiros cantando pelas ruas. Que seria dos turistas de todo o País e até do estrangeiro na cidade? Simplesmente desapareceriam.

Sinceramente, por algo que, segundo me quer parecer ao dar uma vista de olhos pelas notícias e reportagens que passam insistentemente nos noticiários nos últimos dias, nada tem a ver com tradições académicas, antes lembra qualquer organização iniciática e secreta que tem as tradições académicas como fachada, vai-se proibir algo com séculos de existência e que tantas saudades deixa a quem já foi estudante?

Sim, quando cada um de nós deixa o Ensino Superior não tem saudades das salas de aulas, muito menos dos professores. É do convívio, da confraternização, das festas, das praxes que tem saudades.

Proibir-se algo só porque infelizmente se deu uma tragédia não faz sentido algum, até pelos contornos envoltos em mistério desse caso. Eu olho para o que aconteceu e comparo com as praxes que vivi, a que assisto nas ruas de Coimbra. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Vendo as reportagens, eu depreendi que nenhum dos que morreram na praia do Meco eram caloiros a serem praxados por elementos mais velhos, depreendi sim que havia um qualquer ritual como há em qualquer organização secreta, daqueles em que há desafios rigorosos que se têm de superar para completar mais uma etapa. Isto não é praxe académica.

Pode ser que haja bom -senso na cabeça dos nossos governantes e que não se confunda aquilo que se terá passado na madrugada de 15 de Dezembro de 2013 com o que é comum nas tradições académicas. Para bem das tradições académicas e da própria cidade de Coimbra que já não se consegue dissociar da vida estudantil.

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