Thursday, January 31, 2008

Foi Lúcia que o levou para o Céu

Esta era a história que não queria jamais contar. È uma lamentável história de alguém que nasceu para não ter mesmo sorte no curto tempo em que viveu entre nós. É ao assistir a situações de vida como esta que penso e questiono se Deus realmente existe e, se existe e é bom como dizem, porque permite que algumas pessoas passem por este mundo sempre sob o signo da má sorte e da infelicidade.

Não é novidade infelizmente para ninguém que os imigrantes de Leste aqui em Portugal são sujeitos à exploração de empregadores sem escrúpulos, a máfias que os ameaçam e os perseguem e à extrema miséria que a sua situação de clandestinidade os obriga a passar.

A minha terra, apesar de ser um ponto esquecido neste planeta também chegou a ter os seus imigrantes de Leste- curiosamente sempre na mesma casa. Se houve alguns que nada fizeram por se integrar na sociedade que os acolheu, estes dois últimos (oriundos da Bulgária) já se sentiam filhos da terra e toda a gente os conhecia e ajudava.

Apesar de virem de um mesmo país e de a má sorte de caírem nas mãos de um patrão que os abandonou perseguir ambos, os dois homens tinham personalidades completamente antagónicas.

O mais velho era alegre, divertido, sociável, ia a tainadas, jantares e frequentava os cafés da terra. Tinha imensos amigos e falava fluentemente a Língua Portuguesa. Já o outro era mais reservado, tristonho e quase não falava Português apesar de estar há mais anos em Portugal que o companheiro. Se ia ao café ou a algum lado apenas era porque o colega o obrigava a ir.

Toda a gente na terra sabia que eles viviam com extrema dificuldade e que até passavam fome. O mais velho tinha uma cadela de grande porte e não tinha como alimentá-la. Foi então que os meus pais os resolveram ajudar na medida do possível.

No Natal de 2004 foi o meu pai que lhes foi ajudar a preparar uma Consoada com algumas coisas que lhes deram. Eles ficaram felizes com o gesto.

Passado algum tempo, um senhor da minha terra ofereceu emprego ao mais velho. O outro continuou em casa abandonado à sua má sorte que sempre o acompanhou. Via-se que ele tinha vindo de uma família bastante humilde que se dedicava ao trabalho no campo.

Depois este homem nunca conheceu outro trabalho senão o de uma refinaria de petróleo. Quando o seu local de trabalho faliu, ele resolveu tentar a sorte no Estrangeiro. Mas o Destino teimava em lhe pregar partidas. Quando emigrou, dizem que a sua esposa fugiu com um amante e abandonou-o.

Andou por várias localidades até vir parar à minha terra onde o que encontrou foi o que se viu. Passava agora os dias em casa sem ninguém e com fome.

Havia uma característica que o marcava: apesar de não ser católico, sempre acompanhava as cerimónias religiosas. Faz hoje dois anos que eu- na minha habitual caminhada durante a recuperação de uma operação aos olhos passei à porta dele e a televisão emitia as cerimónias fúnebres da Irmã Lúcia que havia falecido dois dias antes. Quando cheguei a minha casa comentei esse facto com a minha mãe e ela disse-me que ele fazia isso para ver se conseguia um sinal divino para que a sorte mudasse. Inclusive, a minha mãe aconselhou-me a fazer o mesmo.

Na Páscoa de 2005, a minha mãe convidou-os para irem lá a casa. Como o meu pai era mordomo do Senhor, havia lá imensa comida. Estava lá também uma prima nossa que vive no Luso. Os dois homens, sentados no sofá, conversavam com ela. O mais velho mostrava alegremente umas fotografias da família. O outro limitava-se a observar com um ar tristonho.

A minha prima descreveu-os assim:
“Vê-se que a educação que ambos receberam foi muito diferente. Este (o mais velho) é o típico búlgaro, enquanto que aquele já é mais humilde. Vê-se que vem de uma família mais rural e mais humilde que lhe transmitiu certos valores religiosos e morais.”

Quando o Papa João Paulo II morreu, lá estava ele atentamente a assistir às cerimónias religiosas. O mesmo se passou depois no 13 de Maio. Eu que também via a minha vida a andar para trás e andava um pouco descrente também achava que não valia a pena rezar nem assistir à missa. Quando a minha mãe me dizia que era castigo por nunca ir à missa eu dizia que aquele búlgaro assistia a todos os actos religiosos e a vida dele continuava na mesma ou pior.

No Verão desse ano, o cidadão de Leste resolve ir tentar a sorte para Anadia onde encontrou umas almas caridosas que lhe deram trabalho no campo. Essas senhoras levaram o imigrante ao médico um dia e foi-lhe detectado um tumor no cérebro. Quem disse à minha mãe foi o mais velho que ainda continuava a viver na nossa terra onde também trabalhava. A notícia foi um choque para nós, mas não quisemos acreditar.

Um dia o imigrante mais velho teve a ideia de ir passar umas férias à sua terra. As autoridades búlgaras apanharam-no e não o deixaram regressar. Os pertences dele continuam ainda dentro da casa à espera que ele um dia volte, mas sabe-se que ele arranjou emprego como condutor de autocarros.

Foi nessa altura que os búlgaros de Anadia vieram a minha casa buscar a chave. O búlgaro que em tempos vivera na minha terra estava outro. Falava melhor, estava mais sociável, mais alegre. Usava um boné branco com uma pala vermelha voltado ao contrário. A minha mãe perguntou o que se tinha passado com ele e ele, tirando o boné, exibiu uma cicatriz de uma operação.

De Anadia chegavam notícias de que ele trabalhou numa padaria e depois numa oficina. Ultimamente até diziam que o mesmo patrão que os tinha arrastado para a miséria lhe tinha dado emprego outra vez. O que é certo é que o meu pai o costumava a ver sempre junto à oficina.

O meu pai nunca mais o viu em Anadia e resolveu perguntar por ele. Ninguém sabia. No passado domingo o meu vizinho disse que um primo que era colega dele na oficina tinha dito que ele tinha morrido uns dias antes com um tumor no cérebro.

No meio de tanto azar que lhe aconteceu na vida, ele teve a sorte de a Bulgária ter entrado este ano para a União Europeia e de ter sido possível aos médicos portugueses que mais nada podiam fazer o reencaminharem para a Bulgária de modo a ele passar os seus últimos dias de vida junto da família.

Tomo conhecimento oficial da morte deste imigrante através da minha irmã. Parece que o meu pai encontrou o amigo dele em Anadia que lhe confirmou a triste notícia. Dois anos passam das cerimónias fúnebres da Irmã Lúcia a que ele assistiu com fé. Lúcia nada mais pôde fazer por ele senão chamá-lo para o Céu para junto de si quase dois anos depois.

Defendem os crentes que vão para o Céu todos aqueles que foram martirizados enquanto viveram na Terra. É uma forma de manter a fé naqueles que se vêem desprovidos dela pelas angústias da vida. Será isto verdade?

De manhã parecia que estava um lindo dia de Primavera, mas depressa esse lindo dia de Primavera se transformou num dia de chuva daqueles bem escuros e cinzentões. Como não trazia guarda-chuva acabei por alterar os meus planos de me matricular. Guardaria para o dia seguinte. Uma aventura, como irão ver.

Apesar das condições climatéricas adversas, até houve muita gente a frequentar a Piscina. Vieram ingleses, italianos e não sei que mais. Eu tive de fazer as minhas habituais confusões.

Foi nessa tarde que concluí a leitura do livro “A Terra Prometida” de Adriaan Van Dis que conta a sua visita à Africa do Sul. Um País que acabava de sair do apartheid e que agora vivia uma espécie de transição.

O Braga jogava com o Parma para a Taça UEFA. A equipa italiana é muito diferente do que foi em tempos. Agora até tem jogadores com nomes esquisitos e bem curiosos. Curioso também é o facto de o seu guarda-redes estranhamente alinhar com a camisola 5. Nunca tal vi!

Para se ter uma ideia, Paulo Santos foi pisado por um jogador chamado...Pizaro. Deve ter doído! Havia um outro jogador chamado...Perna.

No Parma também alinhava um jogador que já passou pelo Futebol Português o bielorusso Kutusov.

Eu penso que o Braga venceu aqueles esquisitos italianos por 1-0 com um golo do brasileiro Zé Carlos que foi festejar para as bancadas para junto dos adeptos.

E assim se passou um dia em que fazia 18 anos sobre o falecimento da minha avó. Como o tempo passa!

Situação do dia:
Um estudante tropeçou nos degraus do autocarro e exclamou:
- “Já não bebo mais nada hoje!”

Bacorada do dia:
“Perna a dar um toque de cabeça” (Que estranho!)

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