Sunday, November 17, 2019

Chovia. Como sempre, apanhei o autocarro para a ACAPO. Apresentando o meu cartão de senhas, perguntei ao motorista quantas ainda restavam. Ele anunciou que era a última. Eu fui dizendo que iria mais tarde ao Arnado carregar o cartão. O motorista disse-me que, se passássemos pelo Mercado e não estivesse lá ninguém, ia carregar o meu cartão num instante. Foi o que aconteceu! O motorista parou o autocarro e, num instante, foi carregar o meu cartão. Isto não é para todos!



Andar com uma bengala branca na rua não deixa ninguém indiferente. Há quem logo se apreste para ajudar, há quem se desvie imediatamente para passarmos e há ainda um grupo restrito de pessoas que simplesmente, movidas por um misto de curiosidade e compaixão, caminham ao nosso lado rezando baixinho.

Posso traçar um perfil dessas pessoas. Normalmente são mulheres, de estatura baixa, idade entre os setenta e os oitenta anos, quase sempre apoiadas numa muleta ou num pau. Caminham curvadas e fazem um esforço tremendo para nos acompanhar. Não falham um domingo na missa, rezam o terço todas as tardes e encontram-se com outras amigas da mesma idade a lamentar a sua vida, quando não é para falarem da vida dos outros. Normalmente os seus assuntos passam por doenças delas e dos outros e normalmente esses relatos surgem acompanhados de referências a entidades religiosas como Deus, Jesus cristo e Nossa Senhora.

Quando caminham na rua ao nosso lado, improvisam orações que não estão em nenhum livro da doutrina católica. Não disfarçam. Á medida que se vão aproximando de nós, oram cada vez mais alto, como que acreditando que, das suas fervorosas orações, surgirá a cura dos nossos olhos.

Nem se dão ao trabalho de disfarçar. Quem vai do outro lado da rua pode perfeitamente ouvi-las a murmurar, apesar do intenso barulho do tráfego.

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