Wednesday, August 02, 2023

De jogadora para jogadoras

 

Foi com bastante orgulho que assisti ontem á magnífica exibição da nossa Seleção feminina contra a todo-poderosa congénere dos Estados Unidos.

 

Dada a diferença entre os dois conjuntos, pensei logo que iria ser muito complicado Portugal seguir em frente, embora o futebol nos proporcione enormes surpresas, sendo por isso mesmo um dos desportos mais apreciados e mais apaixonantes do Mundo.

 

Ontem pude assistir ao jogo na íntegra, mais uma vez e constatei que as nossas navegadoras levaram bem alto o nome e os atributos de todas as mulheres portuguesas. As que não ligam pura e simplesmente ao futebol, as que um dia sonharam jogar Futebol e não as deixaram por estúpidos preconceitos e estereótipos sociais e culturais e ainda as que  abriram caminho no passado para que estas jovens continuem a desenvolver-se e a mostrar a uma retardada sociedade portuguesa que a mulher também tem qualidade e talento para jogar futebol. Só não tem na cabeça de mentes tacanhas que, logo quando nasce uma menina, a forram de cor de rosa e lhe enchem o quarto com bonecas, acreditando que foi para isso que nasceu. Para cuidar da casa, ser mãe e não embarcar em outras cavalgarias que não são dignas de uma dama.

 

Esse tempo já passou há muito. Muitas vezes são as  jovens em casa que, perante o olhar reprovador ainda dos pais, dizem que querem jogar futebol. Ainda há poucos anos se ouvia dizer que muitas meninas jogavam ás escondidas. Cometeram algum crime? Estavam a fazer alguma coisa imoral? Se calhar muitas das mais velhas que fizeram parte deste grupo ainda apanharam pessoas que as incentivaram a desistir, não a continuar.

 

É certo que muitas mulheres e meninas nem querem saber de futebol mas também conheço muitos homens e rapazes que também não o apreciam e, no entanto, em algum momento das suas vidas, praticamente tiveram uma bola á cabeceira do berço quando nasceram. Os preconceitos e os preceitos culturais precisam de levar uma enorme machadada e eu acredito que ontem se ficou com uma ideia completamente diferente do Futebol nacional praticado por mulheres.

 

Dou aqui o meu exemplo, pois para além dos tradicionais preconceitos de género que, já sabem por aqui, muito me irritam, ainda nasci com uma deficiência visual  congénita que hoje não é obstáculo para também jogar Futebol e, apesar de já não ser jovem, tento recuperar o tempo perdido e, um dia, quem sabe, possa ver uma outra versão feminina de uma seleção nacional de futebol- a de Futebol de Cegos. É esse o meu grande sonho, abrir caminho para que outras mulheres e meninas simplesmente acreditem que é possível fazer aquilo que sonharam, independentemente do que a sociedade possa dizer.

 

Temos o dom de mudar  o Mundo, basta querermos. Não há ninguém que nos faça parar porque, por experiência própria, constato que as mulheres que amam o Futebol o fazem com maior fulgor, paixão e sentimento do que os homens. As mulheres que gostam de Futebol são doentiamente fanáticas. Escreve uma delas estas linhas. Muitos homens que gostam de Futebol ficam de boca aberta quando lhes digo que sou capaz de estar um dia inteiro a acompanhar jogos de Futebol. Eles não conseguem. Eu faço isso naturalmente. Sempre fui assim.

 

Ontem, para não variar, estive colada ao relato do jogo e rebentei de orgulho quando  testemunhei o excelente jogo das nossas navegadoras que praticamente vulgarizaram a melhor seleção do Mundo.

 

Que este jogo e esta participação no Mundial tenha o condão de despertar consciências e não permitir que ainda hoje não se dê hipóteses em muitos lados que uma menina escolha entre uma bola e uma boneca.

 

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