Wednesday, January 01, 2020

2019


A última noite do ano apresentava-se bastante fria mas o doce calor da fogueira aquecia e perfumava o ar com um agradável aroma a madeira.

Adie e Feijoa estavam presentes na sala. O meu pai já dormia no sofá. Eu, a minha mãe e o meu vizinho íamos vendo televisão enquanto não chegava a meia noite.

As doze passas já aqueciam na minha mão fechada, tornando-a pegajosa.

A garrafa de champanhe já aguardava em cima da mesa pela contagem regressiva para ser aberta.

Chegou o tão ansiado momento do fim de mais uma década e o início de outra que toda a gente deseja que corra ainda melhor.

Da minha parte, estes últimos meses foram, naturalmente, complicados, pois o que eu mais temia acabou mesmo por acontecer. Enquanto soavam as doze badaladas, lembrei-me amargamente daquele dia deste ano que agora terminava que pareceu ter mais do que vinte e quatro horas. Pareceu ter até mais do que um ano, seguramente mais do que uma década, muito tempo em vinte e quatro horas para mudar irremediavelmente uma vida. Os dias felizes correm sempre vorazes, enquanto que os mais nefastos arrastam-se, teimam em não chegar ao fim. Ainda sinto que o dia 27 de maio não chegou ao fim. Parece ao mesmo tempo tão longínquo e tão presente. Ponto de passagem entre uma vida que deixei para trás e esta que tenho agora. Um dia que abafou completamente quaisquer outras recordações que pudesse ter deste ano que agora termina.

O meu vizinho abriu a garrafa de champanhe. Unimos os copos num brinde a um novo ano que se prevê difícil, atendendo ao que foi o ano que agora termina. Também para ele o ano que passou deixou marcas menos felizes. Também para ele a vida mudou nestes últimos meses também por questões de saúde.

Ali estávamos nós a brindar a um novo ano com a esperança renovada de que, apesar dos infortúnios das nossas vidas, ainda pode haver esperança, um recomeço, um ponto de viragem.

Tragava as minhas doze passas quentes e meladas quase implorando que este pesadelo que vivi neste ano que passou não se volte a repetir, apesar de ser impossível o tempo voltar atrás.

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