Thursday, April 11, 2024

“Identidade E Família” (impressões pessoais)

 

Foi para isto que fizemos o 25 de Abril há quase cinquenta anos? Também…

 

Há dias andava na rua e começou-me a cheirar a interior de igreja, não estava enganada. Estava junto a uma instituição religiosa. O mesmo aroma me veio às narinas enquanto lia este livro que é o assunto mais falado nos últimos dias, com a agravante de ter sido apresentado por um antigo primeiro Ministro que teceu palavras contundentes em relação ao ensino Público que comparou ao praticado na antiga União soviética com o ensino de políticas de Esquerda.

 

Imediatamente vozes se levantaram, já que vivemos em Democracia e a discussão e troca de argumentos já não é crime desde 1974 no nosso País. Consta que nenhum dos autores destes textos deste livro organizado pelo Movimento ação Ética tenha sido condenado a prisão, a tortura ou a trabalhos em campos de concentração. No tempo em que esses senhores de Direita governavam a história já era diferente.

 

Tendo tido a sorte de imediatamente este livro me ter vindo parar ás mãos, logo me apressei a ler. Pensei que havia coisas piores mas o que está a causar polémica já é revoltante demais.

 

Estão aqui reunidos cerca de duas dezenas de artigos de opinião de diversos pensadores e religiosos portugueses das mais variadas áreas, de médicos a religiosos, passando por antigos políticos, economistas e sociólogos. Todos foram desafiados a escrever sobre o tema que dá nome ao livro.

 

De uma forma assertiva ou completamente desfasada da realidade, todos foram falando dos valores que a família incute mas muitos vão mais longe e defendem que o ensino público está a desconstruir o que a família devia construir. A culpa, para os mais radicais, e de uma forma redutora, é do facto de as mulheres agora não estarem em casa e estarem inseridas no mundo laboral. É por causa disso que há aborto, eutanásia, divórcio, poucos casamentos…diz alguém neste livro que trabalhar para os nossos antepassados era um sacrifício, deixar o aconchego do lar para enfrentar os terríveis perigos da rua…Hoje terrível é ficar em casa a cuidar das lides domésticas. Hoje, quanto mais se andar na rua, melhor…os nossos avós, especialmente as nossas avós, viviam assim e não se queixavam. Pois…corriam o risco de ir parar a uma casa chamada Caxias.

 

A culpa não é das mulheres, dos homens, das crianças, dos políticos, dos religiosos, das minorias…simplesmente a sociedade evoluiu a todos os níveis. Em todo o mundo industrializado praticamente.

 

Hoje o nível de vida é diferente e os produtos de que necessitamos são também diferentes. O custo de vida aumentou e as estruturas sociais e familiares também se alteraram. Ainda bem que as mulheres se emanciparam. Noutros tempos, nomeadamente no nosso bafiento cantinho, nem para comprar um par de cuecas a mulher tinha dinheiro. Tinha de se humilhar e rebaixar para pedir dinheiro ao marido. Querem voltar a esse tempo? Eu dispenso.

 

Fala-se aqui muito da ideologia de género, substituindo por identidade de género. As escolas são as grandes culpadas da crise de valores que esta a minar a sociedade portuguesa, com o Estado a ditar leis e a fazer pensar as gerações vindouras por aquilo que quer. Bem, meus amigos, no tempo em que eu andava na escola, não havia cidadania. Havia Religião E Moral que era obrigatória, a menos que se justificasse que não se professava a Religião Católica. Uma grande seca. Claro que ali não se ensinava Educação Sexual e outros ensinamentos do Mal que moldam o pensamento com vista no prazer imediato. É por isso que a taxa de natalidade diminuiu, que há o aborto, que há o divórcio…coitadas das nossas avós, achavam que apenas o homem era dono do seu corpo e não havia mal nenhum se praticamente fossem violentadas. Como dizem as senhoras que vão à missa, elas hoje sabem mais do que eles. Ainda bem!

 

Quem sou eu para falar na escola? Nunca gostei de lá andar, apesar de ter aproveitamento. Chocaria alguns destes autores, ou talvez não, se dissesse que a Educação devia ser moldada de acordo com os gostos e interesses de cada um e não ser standard. Por exemplo, para que é que eu tinha Religião E Moral, uma carga horária incrível de Matemática e não tinha por exemplo, uma carga maior de disciplinas relacionadas com as artes?

 

Está bem que as crianças mais pequenas ainda não sabem o que querem mas a escola, pelo menos no meu tempo, não atraía. Precisamente por as mentes mais novas estarem ainda em formação, já se incute nas demoníacas aulas de Cidadania que se pode ser o que se quiser. Isto para criticar a Identidade ou ideologia de Género amplamente difundida nesse antro de pecado que é a escola. Resumindo aqui, parece que se sai da escola com o doutoramento em homossexual, transexual ou outras aberrações que colocam em perigo a instituição família que deveria ser independente do Estado. Caso estes senhores não saibam, a homossexualidade não se aprende nas escolas. Na escola apenas se dão ferramentas para lidar com essas situações mediante a confirmação da diferença. Se a família está em risco por se casarem pessoas do mesmo sexo, digo e também já perceberam que é mais porque as pessoas única e simplesmente não se querem casar por diversos fatores, especialmente porque a sociedade evoluiu e os valores também.

 

Defende-se que hoje tudo é provisório. Pois claro, o Mundo está a avançar a uma velocidade mais vertiginosa do que há cinquenta anos atrás. Todos os dias surgem novas descobertas científicas e tecnológicas. Aliás, não é por acaso que já está incluído neste livro um texto sobre Inteligência Artificial.

 

Como alguém defendeu  após ler este conjunto de textos, uns mais polémicos, outros com alguma pitada de razão, os responsáveis pela crise das famílias, do casamento, da baixa taxa de natalidade são os salários baixos, a crise na habitação, a pouca flexibilidade entre trabalho e família…

 

Outra coisa que aqui não se  referiu é que realmente o Estado interfere com as famílias de uma forma que se calhar alguns destes senhores concordam. Basta faltar alguma coisa material a uma criança hoje para logo virem os Serviços sociais e mandarem essa criança para fora   da família. Muitas vezes essas crianças não sofrem maus tratos, apenas a família não tem rendimentos. Sendo  assim, quem é que se vai meter na aventura do casamento e da procriação. Diz a minha mãe muitas vezes que, se fosse agora, ela seria imediatamente retirada á minha avó que era mãe solteira e vivia numa casa com condições precárias. Mas à minha mãe e também a nós nunca faltou uma coisa: amor.

 

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