Monday, December 18, 2023

São silvestre e Showdown

 

Este fim de semana foi repleto de atividade desportiva. Depois da festa de natal da ACAPO, iria correr dez quilómetros na São silvestre de Coimbra. Dezoito anos depois iria fazer esta mítica prova a correr.

 

Graças ao projeto Sexto Sentido, agora que não vejo, fui acompanhada de uma guia, com quem já tinha feito um bom treino na passada segunda-feira para esta prova.

 

Devo dizer que as sensações foram muito boas. Tinha a vantagem de conhecer as ruas de Coimbra muito bem. Sabia onde estavam as principais dificuldades e onde tinha de estugar mais o passo. Assim aconteceu. Acabei por fazer uma boa prova, atendendo a que recomecei a correr em julho e não tenho muitos treinos na rua. começaram a ser assíduos nos últimos tempos, nas últimas semanas, até porque no próximo sábado irei também correr a São silvestre de Mortágua.

 

Quanto ao Showdown, a sorte não esteve do meu lado. Depois de derrotar o meu colega  Emanuel Semedo, cruzei-me com aquele que havia de ser o vencedor de um evento que tinha o nome de …Blind Games. Fixem bem isso!

 

O meu adversário-  Diogo Azevedo- era normovisual. Está bem que tem os olhos vendados como nós mas consegue tirar vantagem porque o cérebro de uma pessoa que não vê em termos motores é diferente de uma pessoa sem qualquer problema. Depois as pessoas sem problemas de visão conseguem ver os nossos jogos com os olhos. Quando vão lá para dentro de olhos vendados, já têm na cabeça como jogamos.

 

Se calhar no Futebol ou mesmo no Goalball, atividades em que as pessoas se têm de movimentar mais, ver não é vantagem. Numa modalidade como o Showdown é.

 

Muitos de nós estamos tristes e revoltados porque foi atribuída uma medalha de vencedor de uns BLIND GAMES a um participante sem qualquer problema de visão.

 

A minha revolta é extensível á de outros colegas, muitos deles que estavam pela primeira vez a participar e que  foram abruptamente sujeitos  a esta situação.

 

Nós, deficientes visuais já sofremos muito na vida. A discriminação, o preconceito e a injustiça são feridas abertas no nosso quotidiano. Se vão numa competição de um desporto adaptado introduzir pessoas sem deficiência visual para competir connosco, estão-nos a tirar a oportunidade de vencer em igualdade  de circunstâncias. As pessoas   sem deficiência têm lá fora uma vasta gama de desportos a que se podem dedicar. Podem participar nas nossas competições. O que não podem é seguir em frente em  eliminatórias completamente desiguais e injustas e ganhar medalhas. A solução aqui para que estas pessoas participem é criar uma competição para elas, não estarem a competir com pessoas que cegaram há pouco tempo ou que estão em trabalho ainda de reabilitação.

 

Há que melhorar e pensar o desporto para deficientes visuais com a ajuda de todos. O que aconteceu ontem só vai afastar os praticantes porque se sentem injustiçados, revoltados e feridos na sua condição de seres humanos até. Uma instância para deficientes visuais deveria ser um refúgio, o último lugar que fizesse as pessoas se sentirem tristes, diminuídas, revoltadas. Eu tenho dificuldade em entender isto.  Não estou com isto a deitar para baixo o trabalho dos outros, apenas estou a constatar factos que se passaram ontem. Também não estou a arranjar desculpa por ter perdido com um atleta sem problemas de visão. Ele só não  ganhou ao melhor dos nossos atletas que se teve de ausentar por ter outro evento marcado para o mesmo dia e que não podia adiar. Isto tudo também porque esta competição acabou por ser marcada muito em cima da hora, com a agravante de estarmos a atravessar a época natalícia. Muitos trabalham, têm eventos de empresas, de escolas dos filhos, de outros grupos em que estão inseridos e onde, felizmente, são acolhidos de braços abertos e tratados com humanidade e civismo.

 

Chega ao fim este ano. Se todos estiverem disponíveis para melhorar, desenvolver e corrigir estas coisas, seria bom para todos.

 

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