Wednesday, August 25, 2010

“A Viagem Do Elefante” (impressões pessoais)



No dia em que a Cultura Portuguesa perde mais um dos seus membros, o actor e humorista António Feio, termino a leitura do livro de outro grande nome que nos deixou recentemente. Nas cerimónias fúnebres de José Saramago, assisti pela televisão a muita gente erguendo as suas obras no ar. Este livro era um dos mais vistos nas mãos erguidas da multidão. Resolvi lê-lo também.

Foi uma leitura bem divertida e agradável e que me fez pensar que certos homens deveriam ser proibidos de morrer. Deveriam cá ficar para continuarem a sua obra única. Onde vamos agora arranjar alguém tão genial como Saramago? Se calhar ainda está para nascer um semelhante. Ou então não voltaremos a ter outro, o que é mais provável.

Falando neste livro escrito já em grande debilidade, acho espantoso como o autor pegou num facto de pouca importância da História de Portugal e a partir daí escreveu esta obra tremenda- a sua penúltima obra. Não sei como Saramago se foi lembrar disto para um romance bem ao seu estilo. Provavelmente achou o episódio engraçado e apaixonou-se por ele ou simplesmente achou que poderia, partindo dali, fazer algo de interessante. Conseguiu-o, diga-se. Das três obras que li do escritor, esta foi a de que mais gostei pela narrativa em si e pela forma fácil como Saramago narra a história e faz as suas divagações.

Tal como acontecia em todos os livros que escrevia, Saramago não deixou de dar as suas tacadas na Igreja sempre que surgia uma oportunidade na narrativa. Aquele episódio do milagre do elefante à porta da Basílica de Pádua foi o maior exemplo disso.

Achei igualmente engraçado o episódio em que a comitiva portuguesa que transportou o elefante até Valladolid se preparar para uma guerra, primeiro com os Espanhóis e depois com a comitiva austríaca que viria buscar o elefante a Figueira de Castelo Rodrigo.

Algumas peripécias da viagem também foram divinais. Aquela dos arquiduques passarem para a frente do elefante só por causa do cheiro dos seus excrementos não deixou de ser curiosa.

Por falar em excrementos: muito gostava Saramago nas suas obras de se referir a personagens a quem deu uma diarreia ou caganeira na boa linguagem de Saramago. Já na obra da polémica- “Caim”- referiu que quando Adão e Eva foram expulsos do Paraíso e andavam sem comer tinham apanhado caganeira. Isso mesmo Adão disse ao anjo, se bem me lembro.

Em suma, foi um livro que adorei ler. O melhor que li até agora de Saramago.

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