Saturday, June 14, 2025

Para lá de metro, para cá a correr

 

Foi uma prova muito especial, a desta manhã em Coimbra.

 

Novas formas de mobilidade estão a chegar á cidade e o metrobus vai começar a circular daqui a poucos dias.

 

Como aqui já narrei, não foi a primeira vez que andei numa viatura deste meio de transporte. Simbolicamente, todos os atletas se deslocaram hoje para os respetivos locais de partida, consoante as distâncias, em viaturas ainda a cheirar a novo.

 

Depois não havia metro para ninguém, havia que fazer o caminho inverso a correr. Bem, também se podia ir a andar mas quase todo o tempo eu fiz os dez quilómetros a correr.

 

A temperatura estava agradável no início, a estrada era boa, pois trata-se do percurso do metro. Claro que havia subidas e descidas, mais subidas até.

 

Com a prova a decorrer, começou a ficar calor que foi combatido com a ingestão de líquidos posicionados ao longo do percurso e por passagens debaixo de sistemas de rega que tinham sido ali colocados para refrescar os atletas.

 

A prova correu-me melhor do que na passada semana.

 

Agradeço ao meu guia de hoje, Sérgio Carvalho, por me ter acompanhado nesta prova. Foi um excelente trabalho de equipa.

 

Friday, June 13, 2025

“Certo dia No Deserto…” (impressões pessoais)

 

Antes de dormir, leio mais um conto infantil, desta vez da autoria de Carlos Pinhão, autor que eu conhecia de alguns textos de livros escolares.

 

Ele começa por questionar por que é que há tantas histórias para crianças passadas na selva e nenhuma passada no deserto? Ele resolve reparar essa lacuna e situa o seu conto no deserto. Claro que o animal em destaque será o camelo.

 

Com uma escrita desconcertante, quase poética e com jogos de palavras, este é um conto que delicia miúdos e graúdos.

 

Thursday, June 12, 2025

“Reborn”

 

Ela acordou sobressaltada. De um pulo saiu da cama. Nos seus sonhos pareceu ouvir a sua bebé chorar. Um choro urgente, pedindo aconchego e carinho.

 

Ela coloca os pés nus no gelado soalho de  madeira. Em bicos de pés para não fazer barulho, desloca-se ao quarto de  Lara. A bebé repousa inerte no seu berço, perdida entre um mundo de roupas e  comodidades em tons de rosa. Ela ajeita as roupas do berço da bebé e  retorna ao seu quarto vazio.

 

As suas noites antes da chegada da Lara á sua vida eram tristes. Um vazio interior sem fim colocava um peso insuportável no seu coração. Ser mãe era o seu objetivo. Esteve casada mas a dificuldade em engravidar e a sua obsessão pela maternidade levaram-na a  um divórcio que deixou marcas nos dois. Uma casa preenchida com várias crianças era o seu ideal de amor mas os médicos disseram-lhe desde logo que era impossível ela engravidar.

 

Foram muitas as noites em claro, com as lágrimas que corriam soltas a ensoparem os travesseiros. Perdeu tudo só porque não conseguia ser mãe. Pensava muitas vezes em morrer. Se não podia dar a vida a alguém, qual era o seu objetivo neste   Mundo? Ela que tinha tanto amor para dar. Amor de mãe, aconchego, calor nas noites de frio, carinho nos dias de birra…

 

Na televisão e nos jornais ela lia sobre mulheres que abandonavam os seus filhos e ficava incrédula. Por que é que essas mulheres puderam ser mães e ela não?

 

Mas agora tem Lara. É ela o seu mais que tudo. Ela comanda a sua vida. Estipula os seus horários, define quando são horas de comer, horas de dormir, horas de passear, horas de comprar roupas chiques e brinquedos.

 

Ela passa horas a contemplar o berço da bebé. Faz planos, idealiza uma vida a duas. Imagina as histórias que lhe vai ler, o primeiro dia de escola, as primeiras confidências da adolescência, aquela cumplicidade entre mãe e filha.

 

É manhã. Depois de uma noite em que ela não dormiu temendo que Lara acordasse de repente e ela não estivesse á cabeceira do seu berço , há que preparar o leitinho. Tudo da melhor qualidade porque a sua bebé para ela é a melhor do Mundo.

 

Separa um vestidinho novo. Cor de rosa, claro está. Hoje quer levar Lara ao parque. Que interessa que as colegas de trabalho a vejam?  Elas não tiraram também licenças de maternidade? Também ela tem o direito de cuidar de Lara como mãe dedicada e extremosa que é.

 

O carrinho de bebé cor de rosa roda pelo passeio. Muita gente passa por ela. Ali vai uma recente mamã num dos primeiros passeios da sua recém-nascida. Ela para. Vai falando para dentro do carrinho,  aconchega a sua bebé. Uma mãe babada.

 

Ela senta-se no banco. Coloca o carrinho á sua frente. Folheia uma revista de bebés e vai falando com voz de mãe para a sua filha. Passa outra mãe com outro carrinho de bebé. Senta-se no mesmo sítio. Ambas conversam. Claro que o assunto é a criação de bebés, o seu orgulho.

 

A recém-chegada  pede-lhe que mostre a sua bebé. Ela desculpa-se com o facto de ela estar a dormir. No outro carrinho, o outro bebé começa a chorar. A mãe de Lara precipita-se a olhar para o carrinho da filha.

 

Cansada, ela chega a casa. Muda a fralda á sua bebé, dá-lhe outro biberão de leite e coloca-a no bercinho. Ela acaba por adormecer também.

 

No seu sonho ela levanta-se para cuidar de  Lara como faz sempre. Chegando ao berço, perante o choro insistente da criança, ela prepara-se para lhe pegar. Encontra  Lara de barriga para cima de olhos arregalados. Uns olhos assustadores. Uns olhos que a julgam.

 

As pequenas mãos de Lara ganham vida. Numa força desproporcional ao  seu tamanho,  precipitam-se para o seu pescoço. Apertam com força. Ela fica sem ar. Ela não sabia que Lara tinha assim as unhas tão crescidas. E os dentes? Como foi possível não reparar?

 

Ela acorda de um salto, um grito estrangulado sai-lhe da garganta. Pela primeira vez desde que  Lara chegou á sua vida, ela tem  medo de se aproximar do berço. Os tremores sacodem-na. O coração galopa no peito.

 

Por fim ganha coragem e segue decidida até ao berço de  Lara. O que encontra é o que sempre lá esteve. Um  inerte e inofensivo bebé “reborn”.