Foi a 27 de maio de 2019 que a minha vida mudou
completamente.
Entrei a ver naquela manhã no hospital e saí de lá praticamente cega. Hoje tenho apenas algum
resíduo visual mas tive de dizer adeus á vida que conhecia.
Deixei de trabalhar, passei alguns momentos dolorosos porque
a sensação da perda em pessoas com a vida feita pode ser devastadora. Poucos meses
depois atravessámos uma pandemia. Embora aparentemente e que eu tenha tomado
consciência, não contraí a covid 19 mas para quem tinha de fazer uma transição
muito importante foi confrangedor.
O que estou a fazer hoje? Seis anos depois agarrei-me ao que
tinha e retomei o que tive num passado longínquo e pensava que não iria ter
mais. A rádio, o Desporto.
Ainda há três dias estava sorridente e feliz por ter feito
uma boa prestação numa corrida de estrada. Mencionei o dia em que tudo mudou. O
dia em que um ajeitar do pescoço para ficar mais confortável depois da operação
viria a causar uma dor tão excruciante que não se esquece. Logo ali vi que se
tinha quebrado o elo entre a vida que acabava de deixar para trás e esta que
tenho hoje.
Há momentos bons, momentos maus. Ainda há dias se realizou o
Festival Eurovisão e eu fiquei algo triste por não conseguir ver as
performances dos artistas. Quando há Futebol por vezes também me assola essa
nostalgia da minha outra vida. Quando há um golo bonito, uma jogada memorável,
um jogador do qual gosto mas que já não conheci a ver. Por causa disso, tive
uma história que acabou por dar origem a
um dos dias mais felizes da minha vida. Precisamente porque passei a viver o
Desporto com mais intensidade e esse jogador, o Taremi, sem querer acabou por
me dar força e alento para continuar a viver. Nos primeiros tempos desta nova
vida, era mesmo o motivo que me levava a não baixar os braços.
De certo modo consegui organizar a minha vida. Hoje divido-a
entre a rádio, a escrita, o Desporto e a leitura.
Se no início tive grandes dificuldades em me adaptar, hoje
resigno-me e sigo a minha cruzada. É muito difícil andar na rua, passar por
alguns sítios que não tinha problema quando via. Há que aceitar esta nova
condição. Hoje penso cada vez menos no que deixei para trás. Sigo em frente e
novos desafios estão à minha espera para serem abraçados.