
Todos os dias as imagens de horror que nos chegam do Haiti nos assolam. Como já foi dito aqui mais para trás, logo no dia seguinte à ocorrência da catástrofe, sonhei com destruição de proporções apocalípticas provocada por um raio ou algo do género que destruiu tudo, ficando apenas uma paisagem árida e sem cor.
As descrições de caos e morte ainda continuam inexplicavelmente a povoar o meu subconsciente e desta vez ainda pensei duas vezes antes de colocar os pés em Coimbra, pois tinha de lá ir.
Ouvi na rádio que uma organização de Coimbra ia enviar ajuda para o Haiti e preparavam-se para ir algumas pessoas prestar serviços naquele terreno. Ao ouvir isso comecei a pensar no que é que essas pessoas iam para lá fazer, que se fosse eu não ia submeter-me àquele cenário com cheiro a morte e destruição, que não será nada agradável andar pelas ruas e tropeçar em cadáveres. Quando disseram que essas pessoas já tinham ido em missão aquando do tsunami de 2004, aí eu calei-me porque essa catástrofe foi muito pior e será difícil de igualar.
Adormeci naquela noite. Já era tarde e eu tinha de acordar bem cedo. Como é habitual, sempre que me tenho de levantar cedo no outro dia, vou para a cama mais tarde e é difícil pegar no sono. Deitei-me eram umas duas horas da manhã e acordei por volta das quatro e meia a pensar na minha vida.
Pois bem…era tudo tão real, que tive dúvidas se estava a sonhar. Saí da Rodoviária e percorri todo o trajecto que me levava à paragem onde normalmente costumo apanhar um autocarro. O Céu estava bastante azul mas havia algumas nuvens brancas.
Chegada á paragem, um sentimento de repulsa tomou conta de mim. Ao ver aproximar-se um autocarro lembrei-me que alguns desses autocarros haviam sido usados no Haiti para transportar cadáveres mais eficazmente. O dilema era se havia ou não de entrar e isso dava-me um sentimento de medo, repulsa, angústia, sei lá.
Não sei se apanhei o autocarro nessa manhã. O resto do sonho já se passava ao cair da tarde. O Sol estava a começar a pôr-se e as nuvens produziam um efeito semelhante a uma lâmpada de um candeeiro. Não o tapavam completamente.
Nessa altura entrei num autocarro, escolhi um dos bancos de trás (parece até que entrei pela porta de saída). O ambiente estava animado. Então eu peguei na minha bolsa laranja do mp3 e comecei a ouvir música. Nada de medo ou de angústia. Sentia-me aliviada por o autocarro estar intacto.
No comments:
Post a Comment