Saturday, June 29, 2024

O tour começa hoje e o meu subconsciente traz-me recordações da estrada

 

Belos tempos, os que me faziam ficar colada á televisão nas grandes voltas velocipédicas a torcer pela minha equipa, a Rabobank.

 

À boa maneira de adepta incondicional, eu berrava, discutia, mandava vir para a frente quem eu visse na cauda do pelotão vestido de laranja, branco e azul. Alguns anos mais tarde vim a perceber que eles iam atrás mas estavam limpos, ao contrário dos que andavam na frente, especialmente Lance Armstrong. O coração daquela equipa era feita de homens íntegros e com valores. A equipa terminou em 2012 por causa do clima de constante suspeição em termos de adulteração de resultados por via de  doping. Ciclistas da Rabobank chegaram a vencer estas voltas na secretaria muitos anos depois. O caso mais gritante foi o do russo Denis menchov que venceu na secretaria uma Vuelta por desclassificação do espanhol roberto Heras que venceu na estrada. Muitos anos depois, foi reconhecida esta vitória.

 

Quando Michael Boogerd e Erik Dekker eram o coração da equipa foi o auge. Eles terminaram as suas carreiras e a equipa praticamente desapareceu. Muitos dos ciclistas transitaram para uma nova formação que é agora uma das melhores equipas do pelotão mundial mas é uma autêntica sociedade das nações. Os ciclistas que eu conhecia já praticamente todos deixaram de correr e assisto mesmo a  filhos destes ciclistas que eu via pequeninos em fotos ao colo dos pais agora andarem também pelas estradas.

 

Sonhei que assistia a uma dessas grandes voltas. O tempo estava de chuva e o  grosso dos ciclistas vestidos de laranja, azul e branco iam atrás. Logo me insurgi contra isso. Não sei quem lá ia. Provavelmente os mesmos que tanta vez mandei vir para a frente, que atrás não era lugar para eles. Normalmente esses ciclistas eram o Bram De Groot (hoje arquiteto), um alemão chamado Grisha, o Maarten Den Bakker, quando não era mesmo o Erik Dekker. Por vezes eles iam buscar água ou alimento para os da frente mas ás vezes era mesmo porque não tinham pernas. Armstrong e companhia, todos cheios de doping e com motor na bicicleta, como foi o caso do ciclista do Texas, seguiam destacados na frente.

 

Houve uma queda coletiva. Um ciclista vestido de verde bateu com força com a cabeça na lomba da estrada. Disseram que era um  espanhol. Eles que são os piores na estrada. Esse ciclista levantou-se do  chão algo tonto e logo foi acometido de náuseas e vómitos. Outros ciclistas pararam para lhe prestar assistência, entre eles, um dos meus. Também tinham a particularidade de serem desportistas com D grande.  São muitos os episódios de desportivismo protagonizados por ciclistas da Rabobank. Lembro-me de um elemento da  Rabobank, justamente numa volta á França, já irremediavelmente para trás, ter praticamente  levado ás costas um ciclista que tinha caído e, veio a saber-se depois, tinha lesões graves. Eles cortaram a meta muito depois abraçados. Aí tive de engolir o protesto por aquele ciclista chegar tão tarde e aplaudir o ato  heroico e de desportivismo que teve. Um enorme orgulho. Outros havia que andavam na frente e até passavam por cima de ciclistas caídos no chão. Lamentável!

 

E lá seguia a prova dos meus sonhos pela estrada fora, apesar da chuva e de metade do pelotão já ter ido ao chão.

 

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