Como num filme, o realizador sonhador consegue fazer aqui uma coisa que, na maioria das vezes, não consegue: levar o sonho para onde quer.
Aqui o problema é que este sonho já se compunha de uma base dramática, podendo-se cheirar a desgraça a cada momento. De modo algum se ia transformar isto num sonho auspicioso.
Isto começa comigo na porta da sala de casa dos meus pais. Olho para a rua e a noite está tenebrosa, assustadora mesmo. O Céu está de uma negrura inigualável sem um ponto de luz. Há um cheiro indescritível no ar. Um miasma de desgraça. A partir daqui, siga com o que pode tornar esta noite pouco auspiciosa e algo deprimente em algo muito pior.
De onde eu estava, ouvi o meu pai dizer que tinha de sair de casa para ir buscar alguma coisa. Imediatamente o clima de mau augúrio se intensificou. Logo uma ave de rapina surgiu no Ceu com o seu piar funesto.
O meu pai já há muito que não anda de noite pela rua. Vai-lhe acontecer alguma coisa, sinto-o no ar…
De uma certa sensação desagradável no desenrolar dos acontecimentos, eis que uma voz interior me prepara para a tragédia ainda antes de ela acontecer. Até música de suspense, algo lúgubre, se ouvia algures no meu íntimo. Aquela voz avisava-me para um desfecho fatal. O Destino tem dessas coisas, a Morte, a desgraça, têm o poder de tirar as pessoas da zona de conforto para as apanhar na rua e lhes acelerar o fim.
Entretanto o Céu negro enchia-se de aves de rapina que, em círculos, rondavam a porta. A desgraça era palpável.
“o teu pai morreu!” disse com mais clareza a voz no meu interior. A noite chorava. Caía um orvalho que transportava consigo aquele cheiro a saudade recente, a perda, a algo muito nefasto mesmo.
Acordei. Este sonho foi mesmo muito estranho. Se eu tinha a capacidade de o transformar, por que não o transformei radicalmente m algo com outro desfecho?
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