Thursday, December 21, 2023

O pai natal perdeu o saco

 

Estava uma noite muito fria e apenas faltavam quatro dias para o natal. Seguindo através de um denso bosque gelado, o  trenó do pai Natal seguia vagarosamente. De tanto caminho percorrer, as renas já estavam cansadas e o Pai Natal, com todo o peso dos anos e a longa distância já percorrida, encontrava-se completamente esgotado.

 

No seu regaço descansava o velho saco de serapilheira de um vermelho desbotado e já com alguns remendos. Tinha algumas manchas de fuligem do interior das chaminés das casas por onde o velho de barbas longas e brancas passava.

 

O pai Natal parava um pouco quando via que o saco estava quase vazio. Ia ao trenó carregado de embrulhos e colocava lá dentro os presentes que tinha de dar nas casas  mais próximas do povoado.

 

Enquanto o bosque era atravessado vagarosamente pela calada de uma madrugada gélida, o Pai natal aproveitou o balanço aconchegante do trenó e fechou os olhos de cansaço. Sentia frio mas a exaustão era mais forte. Segurava o velho saco quase vazio na mão.

 

Um movimento mais brusco das renas causado pela irregularidade do caminho fez com que o Pai natal acordasse em sobressalto. Abrindo muito os olhos e tentando perceber onde se encontrava, logo o velho reparou que lhe faltava qualquer coisa. Era o seu inseparável saco dos presentes que o tem acompanhado ao longo de toda uma vida transportando as prendas que crianças e adultos lhe pedem ao longo de todo o ano nas suas cartas.

 

E agora saber onde o saco ficou! Teriam andado muito desde a altura em que as mãos adormecidas e cansadas largaram o saco?

 

Com um comando algo brusco e desesperado, o Pai natal ordenou ás renas que retrocedessem. Ainda seguiam no mesmo trilho mas o bosque ficava para trás. Seguiam agora numa clareira e, lá ao fundo, avistava-se uma aldeia. O aroma aconchegante de lenha a arder nas lareiras fazia o pai natal sonhar com chaminés quentes mas não podia ir a essas casas sem os presentes que aquelas pessoas lhe pediram. Tinha de encontrar o saco. Mas onde?

 

Ainda estava escuro quando o trenó reentrou no bosque denso e gelado. A neve salpicava o caminho e abria uma autêntica estrada branca. Isso dava uma nova esperança ao pai natal. Como o saco é vermelho, pode-se ver melhor através do manto branco do trilho.

 

O trenó seguia e nada de se vislumbrar o saco com os presentes. Que desilusão se o saco não aparecesse! Aquelas pessoas deixariam de acreditar no pai Natal.

 

Ao longe ouviu-se um barulho. As renas sobressaltaram-se, arrebitando os seus focinhos vermelhos e gelados. Vinha aí alguma coisa e não era o ser humano. O que era, um animal de quatro patas seguramente, corria ofegante através da floresta. Um lobo? Uma raposa?

 

O animal aproximou-se. Com alívio, o Pai Natal constatou que se tratava de um enorme cão. Era de uma tonalidade cinzenta. Na coleira trazia escrito “Ferrugem”.

 

“Ferrugem correu para a frente do trenó que agora tinha parado. Aos pés do pai natal depositou calmamente o saco que trazia na boca e no qual o velhinho de barbas brancas ainda não tinha reparado.

 

O pai natal ficou contente e aliviado. Abraçou com força o corpo quente do cão e convidou-o a seguir no trenó em direção á aldeia. Já podia entregar os seus presentes que permaneciam intactos no saco. Felizmente eram coisas que não se partiam, eram sobretudo peças de vestuário bem quentes para aconchegar as pessoas neste inverno tão frio.

 

O cão seguiu o trenó. Quando chegou á aldeia, a uma das primeiras casas, estacou junto á porta e começou a latir. Um homem de certa idade, em chinelos e roupão, apressou-se a abrir. Ainda trazia nas  mãos um livro. Estava a ler no quarto.

 

Quando o dono viu “Ferrugem” ficou muito contente. Há uma semana que o cão havia desaparecido e agora reencontrava o trajeto para casa graças ao trenó do pai natal que se afastou para que o homem não o visse.

 

Pela cena enternecedora a que o pai natal assistiu, o melhor presente deste homem foi ter o seu cão de volta. Não havia registo de qualquer carta vinda daquela casa ao pai natal mas tudo estava a correr bem.

 

Havia ainda um longo caminho a percorrer. Os presentes seriam distribuídos sem sobressaltos. A partir daí, o pai natal tomou ainda mais cuidado com o seu precioso saco para que nenhum presente ficasse pelo caminho

 

Feliz natal!”

 

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