Saturday, April 29, 2023

Barulhos na madrugada

 

Por volta das três e meia da madrugada acordei com o barulho daquilo que  inicialmente pensei que fosse água a pingar no chão do andar de cima.

 

Dei um salto da cama e fui espreitar. De facto, aquilo parecia água a pingar no soalho de madeira. A minha preocupação era se a água viesse parar acima da minha cama ou ao chão onde tinha coisas elétricas ligadas. Mas o vizinho não estava em casa? Pareceu-me ouvi-lo. Seria possível que estivesse a dormir e não ouvisse água a cair? Se eu conseguia ouvir…

 

Se não  caísse água cá em baixo, não havia problema. O barulho era o menos.  Dali a umas horas se veria. Tinha de estar alerta.

 

Voltei-me a deitar ainda preocupada. O barulho cessou por momentos.

 

Depois já era noutro sítio que se ouvia o mesmo martelar. Parecia mesmo água a cair ou a pingar mas escutei melhor. Como seria possível ser água em vários sítios diferentes? É que agora o barulho vinha do lado das janelas e não do lado da porta da cozinha como acontecia há pouco.

 

Mais uma vez verifiquei se havia algo molhado no chão. Não dando pela presença de água, voltei-me a deitar. O barulho voltou a parar um pouco. Mau…

 

Passado um pouco, dez minutos se tanto, o  barulho voltou ainda com mais intensidade. Foi aí que constatei que não era água a pingar do andar de cima o que ouvia. O barulho era acompanhado de um farfalhar. Seria um inseto ou algo assim que havia entrado para dentro de casa e ali tinha ficado. Uma daquelas borboletas enormes talvez. Aquelas a quem chamam peneiras.

 

Também me lembrei que podia ser um morcego mas eu fechei a janela ainda de dia. Como foi que ele entrou? Lembrei-me de uma ocasião em casa dos meus pais que dormi com um morcego no quarto toda a noite. Também ele fazia barulho mas lá estamos no campo, é normal entrar bicharada para dentro de casa, inclusive cobras. Aqui estamos na cidade e o máximo que vi  aqui dentro foram abelhas. Mas os morcegos andam na cidade.

 

O barulho parava por instantes e logo recomeçava. Ia prestando mais atenção. Realmente era qualquer coisa com asas a bater no estuque, não era no andar de cima. De vez em quando, a criatura passava em voo rasante, bem próximo da minha cara, batendo as asas. Ia mais para a hipótese de uma borboleta. Daquelas grandes. Se fosse um morcego, tinha de ter cuidado para ele não me morder na cara. Pode ter raiva.

 

Já na posse da informação de que não era água o que ouvia e que era qualquer coisa que tinha entrado durante o dia, resolvi abrir a janela de par em par. Eram aí umas cinco da madrugada. Nem assim a criatura ia para a rua. continuava a dar voltas por ali  e a bater na parede.

 

O despertador tocou. Apesar de ser sábado, ia-me levantar para fazer um treino na pedaleira. O  que quer que por aqui esteja, que vá para a rua!

 

Enquanto treinei, nunca mais ouvi barulho. Não sei mesmo se a criatura foi para a rua ou, no caso de ser um morcego, se continua escondida algures.

 

Que inferno!

 

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