Tuesday, August 22, 2023

Beijos demoníacos

 

Adormeci a ver televisão e, a certa altura, pareceu-me numa espécie de paralisia do sono que a minha mãe me chamava do outro lado da porta. Eu sabia que isso não era possível, muito menos a uma hora daquelas. Mesmo assim fui abrir.

 

Com umas unhas que pareciam de zombie, a minha mãe agarrou-me com sofreguidão e começou a beijar-me a face sofregamente.

 

Naquele intervalo eu acordei e vi que a televisão estava ligada. Apaguei-a e voltei-me a deitar.

 

Mas os sonhos com a minha mãe continuaram.

 

Desta vez encontrava-me no terraço de casa dos meus pais. Sem dúvida que era um sonho. A minha mãe devia estar no pátio a dar de comer aos animais. Estranhamente o terraço estava completamente ás escuras, tendo como única fonte de  claridade a luz da casa de forno.

 

O portão do pátio rangeu com veemência. Vinha lá a minha mãe. Tal como da outra vez, agora ainda mais ávida, em vez de me beijar, começou-me logo a morder. Ao mesmo tempo, cravava as suas unhas no meu braço.

 

Um tempo depois de acordar, ainda sentia um certo formigueiro daquele lado da face.

 

Fiquei preocupada porque já tenho ouvido falar de pessoas que sonham com outras e, no dia seguinte, descobrem que as pessoas com quem se encontraram nos sonhos tinham morrido no exato momento em que ocorreram esses sonhos. Seria uma espécie de despedida. Ao mesmo tempo pensei que, a acontecer uma coisa dessas, muito mau seria o espírito da minha mãe para, eventualmente, se vir despedir assim.

 

No dia seguinte não havia novidades e ainda bem.

 

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