Mais alguém com quem me identifico.
Leila Slimani foi convidada a dormir num museu em Veneza. Ela fica sozinha na companhia de inusitadas obras de arte e percorre as galerias desertas descalça.
Ao longo desta noite de clausura voluntária no museu, ela vai dissertando sobre a arte e, particularmente, a escrita.
Leila slimani aborda a sua experiência como escritora e é aí que me identifico com ela. Escrever e, acrescento eu, também a leitura são atividades em agradável solidão. São atividades que requerem o afastamento social e o silêncio. Requerem concentração para o pensamento vaguear e nos deixarmos levar para a história que estamos a escrever ou a ler, acrescento eu.
Para quem escreve e, porque não, para quem lê o sossego é fundamental. Muitas vezes as pessoas pensam que nós nos sentimos sós mas não há melhor companhia do que um livro escrito ou lido. O exterior só vem quebrar o elo desse mundo imaginário e silencioso que oferece um bom texto, uma boa história, bons personagens.
A escritora marroquina dá conta do esquecimento da vida exterior quando está a escrever. A mim acontece-me o mesmo. Muitos dos textos que escrevo, só as ideias iniciais partem do consciente. Para o resto do texto deixo que o meu subconsciente me guie.
Nem só de muito barulho e muita gente á volta se faz a vida. Eu, pessoalmente, divirto-me mais a sós com qualquer coisa para ler e que também me pode ou não inspirar a escrever. Da minha parte, já gostei mais de andar na rua, de conviver, de sair. Dada a minha condição, cada vez mais me afeiçoei á companhia dos livros e de algumas coisas que escrevo. Compreendo perfeitamente o transtorno que a interrupção de algo vindo de fora pode causar em quem está embrenhado a escrever ou a ler. No meu caso utilizo o telemóvel para ler e o facto de me ligarem já vem desligar-me daquelas imagens que a minha mente estava a construir sobre o que estava a ler ou sobre qualquer outra coisa. Só com os livros consigo ver.
No caso deste livro, Leila Slimani também vai dissertando sobre a sua condição de mulher nascida num país mais conservador e faz o paralelismo entre as damas da noite que tão bem conhecia em Marrocos e que só abrem as suas flores perfumadas á noite e o desejo de liberdade por parte das mulheres.
Cada obra de arte, por mais estranha que seja como aquele cadeirão que apresenta ainda as marcas de quem lá esteve sentado, como se a pessoa se tivesse acabado de levantar, suscita uma memória de juventude. Sem conseguir dormir num lugar tão curioso, os pensamentos surgem livremente.
Até que o sono vence…
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