Han Kang, Prémio Nobel da Literatura em 2024, traz-nos este impressionante livro baseado em factos reais.
Ela pega numa das vítimas do massacre de 18 de maio de 1980 na sua cidade natal para construir esta história com algumas reflexões.
A forma como os orientais abordam a morte está aqui muito presente. Eles creem que o morto não sai de ao pé do seu corpo e consegue ver como ele é tratado depois da morte. Um corpo mais destruído ou mutilado dará origem a uma alma mais errante e atormentada.
Aqui crê-se que, com a morte, acaba o sofrimento. Lá não é bem assim. As almas de quem é arrancado abruptamente á vida não descansam. Se o corpo está a ser maltratado ou abandonado, se é esquartejado…deve ser horrível a pessoa olhar para o seu corpo e ver que ele está abandonado algures a decompor. Quando deitam fogo aos corpos na floresta, a alma voa e vai ver como estão os seus entes queridos.
Por cá também há a crença de que as pessoas que têm morte natural têm a sua alma mais pacificada, pois a vida não foi arrancada abruptamente dos seus corpos. Já li relatos de médiuns e outras histórias sobre pessoas que tiveram acidentes e prosseguiram com a sua vida sem saber sequer que já estavam mortas. Aqui também isto é explorado de uma forma impressionante. Muitas dessas pessoas não mereceram uma sepultura digna. As famílias nunca mais souberam deles.
Através desta obra, a autora dá-nos um retrato de vidas estilhaçadas face á crueldade humana. Não só os mortos sofrem, como os vivos vivem um resto de existências conturbadas. Pela tortura e pelo facto de não saberem o que aconteceu aos seus amigos.
O facto de a autora pegar numa das vítimas para construir a sua história é excelente. Foi procurar quem conheceu aquele jovem que foi procurar o amigo que tinha desaparecido na manifestação que foi reprimida com o massacre e nunca mais voltou.
As histórias reais são sempre mais impressionantes que a mais hedionda das ficções.
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