Tuesday, April 09, 2024

“Não Saí Da minha Noite” (impressões pessoais)

 

Annie Ernaux escreve novamente sobre a sua mãe.

 

A velhice e a demência a ela associada  é sempre um transtorno para quem está doente, mas sobretudo para os mais próximos. Nunca antes se tinha ouvido falar tanto de Alzheimer como agora e calcula-se que dentro de poucos anos, fruto da longevidade e do envelhecimento da população, este número possa vir a aumentar vertiginosamente.

 

Escrevi há uns anos atras que a vida do Ser Humano era um círculo porque, na  terceira idade, os idosos acabam por ser tratados exatamente como nos primeiros tempos das suas vidas. Encontram -se acamados, têm pouca mobilidade, só podem comer alimentos que não implicam mastigar, usam fraldas e precisam que alguém cuide deles. Chegue a essa conclusão ao assistir a uma cuidadora dar de comer na boca a uma idosa e a falar-lhe como se falasse para um bebé de dias e não para uma mulher com mais de oitenta anos. A essa conclusão chega a autora francesa  já galardoada com o premio Nobel da Literatura enquanto  refletia sobre a vida da sua mãe diagnosticada com Alzheimer e a perder competências de dia para dia.

 

A autora apontou num diário que mantinha a decadência da sua mãe a partir do momento em que foi internada por se ter esquecido dias a fio de se alimentar. No meu entender, estes apontamentos servem para os familiares de doentes saberem interpretar os sinais e agir para que estes idosos sejam acompanhados.  Ainda há uns dias foi encontrado o corpo de uma senhora que, num momento   de distração e negligência foi deixada sozinha, perdendo-se a escassos metros da porta de onde saiu.

 

As demências em geral e o Alzheimer em particular são problemas complexos que exigem atenção redobrada para com os pacientes. Justamente o que se requer com  crianças muito pequenas.

 

De referir ainda que a frase que dá nome ao livro foi a última que a mãe de Annie Ernaux escreveu.

 

No comments: