Annie Ernaux escreve novamente sobre a sua mãe.
A velhice e a demência a ela associada é sempre um transtorno para quem está doente, mas sobretudo para os mais próximos. Nunca antes se tinha ouvido falar tanto de Alzheimer como agora e calcula-se que dentro de poucos anos, fruto da longevidade e do envelhecimento da população, este número possa vir a aumentar vertiginosamente.
Escrevi há uns anos atras que a vida do Ser Humano era um círculo porque, na terceira idade, os idosos acabam por ser tratados exatamente como nos primeiros tempos das suas vidas. Encontram -se acamados, têm pouca mobilidade, só podem comer alimentos que não implicam mastigar, usam fraldas e precisam que alguém cuide deles. Chegue a essa conclusão ao assistir a uma cuidadora dar de comer na boca a uma idosa e a falar-lhe como se falasse para um bebé de dias e não para uma mulher com mais de oitenta anos. A essa conclusão chega a autora francesa já galardoada com o premio Nobel da Literatura enquanto refletia sobre a vida da sua mãe diagnosticada com Alzheimer e a perder competências de dia para dia.
A autora apontou num diário que mantinha a decadência da sua mãe a partir do momento em que foi internada por se ter esquecido dias a fio de se alimentar. No meu entender, estes apontamentos servem para os familiares de doentes saberem interpretar os sinais e agir para que estes idosos sejam acompanhados. Ainda há uns dias foi encontrado o corpo de uma senhora que, num momento de distração e negligência foi deixada sozinha, perdendo-se a escassos metros da porta de onde saiu.
As demências em geral e o Alzheimer em particular são problemas complexos que exigem atenção redobrada para com os pacientes. Justamente o que se requer com crianças muito pequenas.
De referir ainda que a frase que dá nome ao livro foi a última que a mãe de Annie Ernaux escreveu.
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