Monday, March 02, 2015

Espiritualidade…ou falta dela



Por onde começar? Antes de mais, por procurar música adequada para isto. De repente lembrei-me desta. Acho que não há melhor.


Agora já posso descrever (ou pelo menos tentar descrever) as incidências de uma noite bem agitada do meu subconsciente. E continuo sem saber por onde pegar nisto.

Era quase uma da manhã quando acordei com o corpo todo dorido. Motivo: sucessivos episódios de paralisia do sono que me acometeram. Eu até pensava que era mais tarde. Desta vez nada consegui fazer para aproveitar estes episódios. Por mais que eu tentasse, só à enésima tentativa consegui sair do estado em que me encontrava para acender o candeeiro e ver as horas.

Adormeci pouco depois mas nem por isso tive sossego. Sonhei que fazia uma terapia lá em casa a quem estivesse interessado. Eu fui fazendo marcações a partir das nove da manhã e usei o mesmo esquema que uso no trabalho. Era mais do que suficiente para cada pessoa.

Não sei que propósito servia essa minha terapia baseada na oração, como se eu tivesse realmente jeito para essas coisas. Tinha tanto jeito, que nem sabia o que fazer quando chegaram as primeiras pessoas interessadas.

Bem, vou tentar descrever o que ali se passava. Na eira de minha casa, montei uma espécie de tenda, com uns enormes tapetes no chão onde recebia as pessoas que eram de todas as idades, conhecidas e desconhecidas, e vinham de todas as paragens. Inclusive houve quem viesse de…Castelo Branco.

Pelas nove horas ainda não tinha ninguém e pensei que as pessoas tivessem desistido. Foram surgindo a conta-gotas primeiro e depois vieram todas juntas lá para as últimas horas, quando era quase noite. Eu já estava cansada. O último grupo era um grupo muito grande e a desordem imperava ali. A minha irmã também ali estava e resolveu conversar com duas jovens desconhecidas, desconcentrando-me.

Ainda não disse no que consistia a minha terapia espiritual. Consistia em fazer umas orações e depois rezar dez Avé Marias (depois já eram sete porque nos enganámos com a distracção de estarem algumas pessoas na conversa em vez de rezar).  Eu continuava a dar o meu melhor para que a freguesia voltasse novamente.

A certa altura, não sei como nem a que propósito, foram surgindo vindas do cimo da ladeira, umas enormes motos de alta cilindrada, cada uma delas com um indivíduo vestido de preto com um megafone apregoando a sua doutrina. Eles pareciam aqueles pastores brasileiros mas apregoavam tudo, menos a Paz e o Amor. Pareciam amantes do culto satânico. Eles falavam com um sotaque brasileiro e com umas vozes grossas e medonhas. De onde saíram? Que fiz eu para os atrair? Estava a ficar assustada. Quando um já ia lá em baixo e mal se ouvia, logo surgia outro a alta velocidade na sua moto e continuava a mesma ladainha.

Depois passaram dois seguidos. Pensei que eles iam parar mas seguiram o mesmo caminho dos outros. Foram surgindo mais, apregoando as suas estranhas preces. Estranhas e sinistras. Mais pareciam ameaças. Mas que Bíblia andavam eles a ler?

Passou mais um quando já era noite cerrada. Entre outras coisas que foi debitando para o ar, foi dizendo:
- “…e dando graças o torturou…”

Não tendo passado mais nenhuma dessas personagens sinistras que já me deixavam com os nervos em franja e a cabeça a fervilhar, o ambiente desanuviou e fomos falando de trivialidades.

Uma rapariga chamada Tânia alegou que ia viajar sem destino, que ia deixar tudo para trás, inclusive a sua irmã Dora que era nutricionista. Ela seguiria de minha casa a pé já de noite e apanharia qualquer transporte para Coimbra de onde seguiria depois para qualquer lado.

Eu acompanhei-a a pé até Anadia e fomos conversando. Fiquei ali junto a uma estada movimentada que tinha medo de atravessar. Ali não havia passadeiras. Havia alguma gente na rua mas estavam todos com medo de me abordar. Podiam assustar-me.

Por fim alguém veio ter comigo e eu disse que tinha de apanhar o autocarro para Coimbra. Estava a amanhecer mas alguém me disse que já era meio-dia e um quarto. A uma hora daquelas, não apanharia o autocarro. O melhor seria ir para Mogofores apanhar o comboio. Não sabia os horários mas também não tinha compromissos para esse dia.

Chegámos à estação e o movimento era muito. Aquilo não era a estação de Mogofores, mais parecia a estação da Figueira Da Foz. Havia imensas linhas e imensos comboios parados e que estavam a ser anunciados pela instalação sonora.

Fiquei a saber com espanto que ali se apanhavam comboios para Leiria e para Avintes ou algo assim comparado.

Havia por ali um grupo enorme de pessoas. Eram os típicos portugueses. Cantavam, dançavam, e não faltava a cesta com a comida e a bebida. Juntei-me a eles e fiquei a observar um indivíduo aí com os seus setenta anos a cantar e a dançar.

No chão havia lixo de toda a rodem, a certa altura escorreguei e fui cair justamente em cima de um monte de bosta. E eu que não tinha outra roupa para vestir. Antes que isso se tornasse mais um angustiante drama, o despertador tocou.

Não sei o que andei a fazer. Estou toda moída e a cama estava completamente em desalinho.


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