Já há muito que não ouvia falar do treinador Mário Reis. A
Rádio Renascença foi saber o que é feito dele nos dias de hoje. O antigo
treinador de Salgueiros e Boavista está afastado do Futebol por opção mas ficam
as minhas memórias de um tempo distante (1992/93) em que Mário Reis treinava o
saudoso Salgueiros.
Foi uma época conturbada para mim em termos de saúde. Tendo estado
constantemente hospitalizada nesses tempos, tinha imenso tempo livre para
divagar um pouco. O Futebol e a Música eram as minhas âncoras e a isso me
agarrava para colorir a minha vida e esquecer o resto.
Para além de torcer pelo Benfica, a minha equipa de simpatia
era o Salgueiros. Também vestia de vermelho e branco mas tinha uma
particularidade que me enchia as medidas. Era treinada por Zoran Filipovic e
tinha nas suas fileiras cinco jogadores com origem nos Balcãs. Vivia-se em
plena guerra nessas paragens com o desmembramento da Antiga Jugoslávia. Numa
altura em que o limite de estrangeiros era de seis por equipa (hoje joga-se com
um ou dois portugueses no onze inicial) o Salgueiros tinha cinco jogadores
jugoslavos.
Deixa-me cá ver se me lembro de todos! Até me consigo
lembrar de todos! Havia o Nikolic, na altura já veterano, o Djoincevic que se
destacava pela sua farta barba negra numa altura em que ninguém usava barba, o
Draskovic que depois ainda jogou no Beira-Mar, o Milovac que vim a conhecer
quando estava no Vitória de Guimarães como treinador adjunto de Zoran Filipovic
e o Marin Lalic- um jogador pequenito e louro que depois alinhava pelo Rijeka ou
outro clube do género lá na Croácia. Julgo que não falta nenhum.
Era o tempo também em que se aplicavam castigos exemplares
de seis jogos de suspensão. Hoje, nem que um jogador parta o nariz numa data de
sítios ao adversário leva apenas um jogo de castigo pelo vermelho que viu- o
mesmo castigo aliás que um jogador que veja dois cartões amarelos por duas
faltas a travar contra-ataques ou que veja um cartão vermelho directo por mão
na bola na área de rigor. Naquele tempo não. O Marin Lalic (não me lembro por
que foi) apanhou logo ali seis jogos de suspensão. O Salgueiros já era treinado
por Mário Reis. Estávamos em 1993.
Foi com muita pena minha que vi o Salgueiros mudar de equipa
técnica nessa mesma época. Os resultados não estavam a ser os melhores e Mário
Reis foi chamado a substituir Zoran Filipovic. Começou logo por alterar a
equipa e, se bem me lembro, os jugoslavos começaram por ficar mais no banco.
Alguns já eram veteranos. Por incrível que pareça, o que jogava mais deles no
tempo de Mário Reis até era o Marin Lalic que na altura tinha aí uns vinte e três
anos- o tal que levou um castigo épico de seis jogos de suspensão no Futebol cá do burgo.
Chegou-se ao final daquela época e o Salgueiros de Mário
Reis salvou-se da descida de divisão mas as notícias davam conta de uma limpeza
de balneário que Mário Reis iria fazer, dispensando alguns jogadores. Não sei
se se falava em nomes mas eu, pessimista como sou, devo ter pensado logo que os
primeiros a serem dispensados eram os meus queridos jogadores jugoslavos. Foi então
que resolvi desenhar mais uma vez.
Estávamos na aula de Educação Visual. Eu andava no nono ano,
quando ia às aulas nos intervalos dos internamentos hospitalares. Pegando numa
folha, lembro-me de ter desenhado Mário Reis com um casaco castanho…e umas
calças verdes. Nesta minha obra, ele estava ladeado pelos cinco jogadores dos Balcãs
e eu coloquei um balão daqueles de banda desenhada com o treinador a dizer mais
ou menos isto:
“Chamei-vos aqui para vos informar que não conto com vocês
para a próxima época.”
Depois colocava também um balão em cada um deles com as
diferentes reacções à notícia. Um deles (já não me lembro quem) perguntava ao
mister:
“E o Lalic fica?”
O Lalic ficou, o Milovac e o Djoincevic também. Saíram o
Nikolic e o Draskovic para o Beira-Mar depois.
Não sei se era Mário Reis ainda a treinar o Salgueiros naquele
célebre jogo com a União de Leiria em que o falecido José António Linhares
anunciou o luto do clube de Paranhos enquanto certo árbitro continuasse a
apitar jogos. Tenho algures um post sobre isso porque consegui encontrar o
caderno onde apontei isso. A mesma sorte não tenho com os desenhos. Nem por
acaso tropecei em nenhum deles. As pessoas devem pensar: falas tanto em desenhos
mas nunca mostraste nenhum. Quando os encontrar, irei mostrá-los aqui.
Belos tempos, aqueles, em que, apesar das adversidades, me
divertia bastante.
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