As tentações da carne são tramadas…
Yukio Mishima volta-nos a falar sobre um templo, desta vez sobre o velho sacerdote que toma conta dele desde há largos anos. Ele que sempre se entregou a Buda de corpo e alma, atingindo um elevado nível espiritual, já muito perto de alcançar a vida plena no paraíso.
Eis que um dia ele se desloca a um lago para fazer a contemplação da água e vê passar uma carruagem com uma mulher que lhe chamou a atenção. Era a Grande Concubina Imperial.
Vendo o seu reflexo na água, logo o corpo terreno e carnal do sacerdote despertou e de que maneira. Pela primeira vez na vida, aquela alminha soube o que era o amor. De nada valia meditar com mais fulgor. Não se conseguia concentrar. A única imagem que via era a daquela mulher junto ao lago.
Um dia o velho sacerdote não aguenta mais e vai ao palácio da grande concubina Imperial. Ela observa da janela. Conseguem se ver um ao outro. Enquanto o Sacerdote vê a sua amada como o exemplo soberano da beleza e do paraíso, a Grande Concubina Imperial vê o velho sacerdote ali especado como uma visão aterradora. Pensa que deve ser aquilo o inferno. Sem dúvida um amor não correspondido.
O sacerdote passa a noite ao frio junto á janela do palácio. Velho pateta e gaiteiro. Estes velhos japoneses devem ser frescos. Sacerdotes ou não.
A grande concubina Imperial começa a pensar se esse não será um sinal, uma provação. Resolve descer e ir ter com ele. Quando as suas mãos se tocam, a mulher sente uma grande presença espiritual, quem sabe do próprio Buda.
O sacerdote acaba por morrer poucos dias depois na sua solitária cela. Ao menos conheceu o amor, ainda que por breves momentos da sua longa vida.
Como é que um velho daquela idade, atendendo a que os japoneses velhos têm para cima de noventa anos, se apaixona talvez por uma mulher que podia ser sua neta?
Resta saber se, com tão tardia transgressão, foi admitido no Paraíso que já vislumbrava antes de ter a nefasta ideia de naquele dia ter saído do Templo para fazer a contemplação da água.
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