Antes de mais, siga
a banda sonora desta caminhada!
Esta sim, é uma
caminhada memorável. Para toda a gente que nela participou. Uma
grande história!
O cenário é
algures entre Soure e Condeixa, perto da Ega. Onde? Não sabemos. O
problema era mesmo esse, para além de ser o trilho mais sinuoso e
mais difícil que eu já fiz na vida. Góis? Foi difícil mas pelo
menos fazia parte do percurso inicial da caminhada. Para se ter uma
ideia, embrenhámo-nos pela floresta e por um caminho que não tinha
sido reconhecido antes. Felizmente correu tudo bem e é com bastante
piada e um sorriso a aflorar-me na cara que narro as aventuras que
ali vivi juntamente com alguns dos meus companheiros.
A certa altura da
caminhada, começaram alguns colegas a dizer que havia uma descida
que estava no percurso que era muito perigosa e muito íngreme. Muita
gente começou a dizer que se recusava a ir por lá mas houve quem
arriscasse. Então qual era a alternativa? Havia um outro caminho em
sentido contrário que ninguém reconheceu como alternativa. Se
fõssemos por lá, sujeitávamo-nos ao que aparecesse e foi isso que
aconteceu.
Aquilo é que era um
trilho. A certa altura, ficou tão duro que toda a gente já mostrava
alguma apreensão. Havia um colega nosso que levava a coisa mais na
desportiva e parecia até divertido ao ver a cara de horror que por
vezes fazíamos. O pior de estarmos ali, pelo menos no meu caso, era
a incerteza. Onde é que aquilo ia dar. Ninguém sabia. Para
desanuviar o ambiente, sempre fomos gracejando e imaginando notícias
na televisão sobre uns caminheiros que se enfiaram selva adentro e
se perderam. Ainda eram bastantes. Depois quem nos vinha tirar dali e
como? E se aquilo nunca mais acabasse e fosse noite e nós ali? Eu
pensei nisso. Houve quem dissesse que aquilo ia dar à parte de trás
do Choupal.
A rastejar, a
gatinhar, a tatear troncos de árvores onde toda a gente se agarrava,
procurando não cair. A certa altura, tive de subir um penhasco tão
alto, agarrei-me a um tronco que cedeu e resvalei por ali abaixo.
Quase fiquei sem camisola.
O melhor foi quando
alguém se agarrou também a um tronco de uma árvore para se
equilibrar...e assanhou as formigas que logo vieram enraivecidas nos
picar. Ficámos cobertos delas. Tivemos que aguentar que elas nos
picassem, pois não havia margem de manobra para as sacudir.
À medida que o
tempo ia passando e permanecíamos ali, eu ia ficando nervosa. Era a
incerteza a dar cabo de mim. Também lá ia a minha colega que não
vê mesmo nada. Os nossos colegas foram incansáveis na ajuda que nos
prestaram, apesar de o caminho também ser complicado para eles.
Fazia as descidas a
rastejar pelo chão. Era a maneira mais segura que tinha para o
fazer. Acabei a caminhada coberta de terra, toda arranhada e com as
calças rasgadas. Superei as agruras daquele trilho. Uma ponta de
orgulho e até mesmo de felicidade invadiu-me depois de ter saído
dali. Era a adrenalina a fazer efeito. Sentia-me capaz de enfrentar
todas as dificuldades e obstáculos que aparecessem.
Ah, a certa altura,
começámos a ouvir transito. Foi uma alegria! Era sinal que havia
saída dali para fora. Mas...demorámos uma eternidade a chegar ao
alcatrão. Ainda tivemos de descer...e descer...e descer...Agora eu
já estava nervosa por demorarmos tanto a chegar à estrada.
Quando coloquei os
pés no alcatrão, não sei explicar o que senti. É muito difícil.
A melhor forma de o exprimir é ter a sensação de ter estado no
mundo selvagem durante bastante tempo.
No final correu tudo
bem. Talvez esta aventura vivida em conjunto tenha servido para unir
e fortalecer o espírito de grupo.
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