Wednesday, May 24, 2017

Humilhação

É comum os meus sonhos me apresentarem sempre como vítima de alguém ou de alguma coisa. Muitas vezes fico aliviada por ter acordado e constatar que tudo não passou de um sonho e que não me vi em apuros ou passei vergonhas perante outras pessoas.

Desta vez as coisas atingiram um limite que eu me sentia algures entre o desespero e a humilhação. Já nem sabia onde me havia de meter. Por mais que tentasse remediar as coisas, acho que as pessoas ainda me humilhavam mais e me desprezavam de uma forma sofrível mesmo.

A situação passa-se num convívio qualquer num lugar desconhecido. Há uma mesa repleta de comida e estamos todos em volta. Eu não conheço ninguém que ali está. É a primeira vez que estou com essas pessoas. Uma delas, a que recordo melhor do sonho e a que vai interagir mais comigo chama-se Inês e tem um ar adorável na primeira impressão.

Ela mostra-se simpática e prestativa mas, ao longo do sonho, vai-se revelando uma criatura repugnante, sempre pronta a me humilhar e a me desprezar. Ao menos as outras pessoas olhavam-me com ar reprovador, como se eu padecesse de alguma moléstia extremamente contagiosa, mas não me dirigiam a palavra de forma cínica.

Tudo descambou quando fomos para a mesa e tivemo-nos de servir da comida que ali estava à nossa disposição. Como não conhecia ninguém, resolvi servir-me e isso deu barraca. Os bifes e as batatas fritas quase nadavam em óleo e eu resolvi servir-me generosamente. Estava mesmo cheia de fome.

Um bife saiu agarrado ao outro. Vinham os dois a escorrer e um deles, logo o maior, caiu em cima da toalha que estava impecavelmente limpa. Foi aí que toda a gente começou a olhar para mim de forma reprovadora, deixando-me embaraçada.

Servi-me então de batatas fritas que também estavam escorregadias de tanto óleo. Não as conseguia apanhar e logo a mesa se apresentava repleta delas. Penso até que algumas caíram no chão. Sussurros reprovadores começaram a ouvir-se e a amiga que arranjei perdeu logo toda a delicadeza que, até ali , tinha tido para com a minha pessoa. Começou logo a dizer que eu não devia ter vindo para ali sozinha, que devia vir alguém comigo...depois foi dizendo que eu não me sabia comportar e que era uma pessoa da pior espécie. As outras pessoas iam murmurando em voz baixa, sem tirar os olhos de mim que tinha as mãos a escorrer óleo. Depois ouviram-se vozes mais altas falando das pessoas deficientes em geral, que eram umas pessoas selvagens, sem maneiras, incapazes de estar, de se comportar, de ter maneiras, de estar num lugar sem dar barraca...

Em vez de me comportar ordeiramente, resolvi tirar as batatas fritas à mão e enfiar pela boca. Imaginem o nível! Então o que querem? Não as conseguia apanhar de outra forma. Tivessem-nas escorrido! Não! A culpa era minha. Eu é que me estava a comportar como um babuíno vindo da selva.

Acordei. Ainda tinha a sensação de me cheirar a óleo de fritar mas era impressão minha.

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