É comum os meus
sonhos me apresentarem sempre como vítima de alguém ou de alguma
coisa. Muitas vezes fico aliviada por ter acordado e constatar que
tudo não passou de um sonho e que não me vi em apuros ou passei
vergonhas perante outras pessoas.
Desta vez as coisas
atingiram um limite que eu me sentia algures entre o desespero e a
humilhação. Já nem sabia onde me havia de meter. Por mais que
tentasse remediar as coisas, acho que as pessoas ainda me humilhavam
mais e me desprezavam de uma forma sofrível mesmo.
A situação
passa-se num convívio qualquer num lugar desconhecido. Há uma mesa
repleta de comida e estamos todos em volta. Eu não conheço ninguém
que ali está. É a primeira vez que estou com essas pessoas. Uma
delas, a que recordo melhor do sonho e a que vai interagir mais
comigo chama-se Inês e tem um ar adorável na primeira impressão.
Ela mostra-se
simpática e prestativa mas, ao longo do sonho, vai-se revelando uma
criatura repugnante, sempre pronta a me humilhar e a me desprezar. Ao
menos as outras pessoas olhavam-me com ar reprovador, como se eu
padecesse de alguma moléstia extremamente contagiosa, mas não me
dirigiam a palavra de forma cínica.
Tudo descambou
quando fomos para a mesa e tivemo-nos de servir da comida que ali
estava à nossa disposição. Como não conhecia ninguém, resolvi
servir-me e isso deu barraca. Os bifes e as batatas fritas quase
nadavam em óleo e eu resolvi servir-me generosamente. Estava mesmo
cheia de fome.
Um bife saiu
agarrado ao outro. Vinham os dois a escorrer e um deles, logo o
maior, caiu em cima da toalha que estava impecavelmente limpa. Foi aí
que toda a gente começou a olhar para mim de forma reprovadora,
deixando-me embaraçada.
Servi-me então de
batatas fritas que também estavam escorregadias de tanto óleo. Não
as conseguia apanhar e logo a mesa se apresentava repleta delas.
Penso até que algumas caíram no chão. Sussurros reprovadores
começaram a ouvir-se e a amiga que arranjei perdeu logo toda a
delicadeza que, até ali , tinha tido para com a minha pessoa.
Começou logo a dizer que eu não devia ter vindo para ali sozinha,
que devia vir alguém comigo...depois foi dizendo que eu não me
sabia comportar e que era uma pessoa da pior espécie. As outras
pessoas iam murmurando em voz baixa, sem tirar os olhos de mim que
tinha as mãos a escorrer óleo. Depois ouviram-se vozes mais altas
falando das pessoas deficientes em geral, que eram umas pessoas
selvagens, sem maneiras, incapazes de estar, de se comportar, de ter
maneiras, de estar num lugar sem dar barraca...
Em vez de me
comportar ordeiramente, resolvi tirar as batatas fritas à mão e
enfiar pela boca. Imaginem o nível! Então o que querem? Não as
conseguia apanhar de outra forma. Tivessem-nas escorrido! Não! A
culpa era minha. Eu é que me estava a comportar como um babuíno
vindo da selva.
Acordei. Ainda tinha
a sensação de me cheirar a óleo de fritar mas era impressão
minha.
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