Tem sido notícia
nos últimos dias na comunicação social- este Domingo vai estrear
nova temporada de “Twin Peaks”.
Eu era louca por
essa série. Lembro-me que não perdia um episódio e dava por mim a
esperar ansiosamente por mais uma quinta-feira para me inebriar de
todos aqueles mistérios intrigantes e uma dose de terror também.
Desta vez não vou
acompanhar por diversas razões. Primeiro a série vai ser exibida na
TV Cabo ao Domingo à noite. Ora nos fins de semana em que vou a casa
não vai dar para acompanhar. Agora no Verão irei mais vezes até
casa. Depois há a dificuldade que tenho agora de seguir uma série
ou filme em Inglês. Há vinte e seis anos ainda via dos dois olhos
e, apesar de compreender pior a língua inglesa do que hoje, agora é
mais difícil acompanhar os diálogos e as imagens ao mesmo tempo. A
minha visão deteriorar-se bastante.
Naquela altura,
tinha eu os meus catorze anos, via muitos filmes e séries. “Twin
Peaks” era uma das minhas favoritas. Sempre gostei de mistério e
do sobrenatural. Esta série enchia-me as medidas.
Vou aqui narrar as
minhas memórias sobre esta série de culto que agora regressa. Estão
um pouco fragmentadas mas vou tentar.
Uma vez houve uma
visita de estudo a Conímbriga. A minha professora do Ensino Especial
vinha-me a ajudar com os degraus e eu vinha a narrar as incidências
do episódio da véspera. Ela perguntou-me se eu não tinha medo, já
que ela não tinha coragem para ver tal série. Eu respondi que não.
Escusado foi ter-lhe explicado que adorava ver, tal era o entusiasmo
com que me lembro de estar a narrar o que lá se passava. Houve outra
vez em que eu e o Paulo Adriano estivemos durante o intervalo a
dissertar sobre um episódio. Ah, já sei por que foi. Eu acho que
não vi um episódio ou não comecei a ver a série logo desde o
início. Antes de começar um episódio novo, repetiam o que se tinha
passado no anterior, como acontecia com algumas novelas. Então havia
uma rapariga que estava no hospital e era assombrada por espíritos
ou criaturas medonhas que lhe falavam com vozes assustadoras. Uma
dessas criaturas disse-lhe que se chamava Mike. Eu não sabia o que
se passava com ela para estar ali no hospital a piorar a olhos vistos
e então perguntei ao Paulo Adriano que me disse que ela tinha sido
violada. Não me lembro se ela chegou a morrer mas aquelas criaturas
não a largavam e, à medida que a vinham perturbar, ela ia piorando
cada vez mais. Ainda não discutia Futebol nessa altura, pois eram
poucos os jogos que podia ver. Davam todos no Canal 2.
O episódio que
recordo com mais nitidez tem a ver com uma cena que poderá ser
assustadora para algumas pessoas mas que eu achei o máximo. Havia
uma rapariga chamada Donna, se a memória não me falha. Acho que ela
era amiga ou conhecia a Laura Palmer. Eu penso que foi o pai da Laura
Palmer que a matou mas não tenho a certeza. Como? Esse homem estava
normalmente a conversar com ela. A certa altura, começou a
transformar-se numa criatura medonha. Ficou um monstro. Um demónio
com uma força descomunal e atacou a rapariga até a matar mesmo.
Depois pegou num saco preto de transportar cadáveres que tinha na
mala do carro, colocou a jovem lá dentro e levou-a para outro local.
Ela estava toda cheia de arranhões na cara e nódoas negras.
Era já noite quando
os detetives da investigação da morte de Laura Palmer foram
chamados ao local onde tinha sido deixado o corpo. Estava a chover,
se bem me lembro. As luzes dos carros da Polícia refletiam na
estrada e o fecho do saco de cadáver estava corrido, mostrando o
rosto maltratado da jovem. Ali, tendo como fonte de iluminação os
faróis azuis das viaturas policiais, o rosto do cadáver ainda se
tornava mais terrível. Uma cena muito bem conseguida!
Lembro-me que estava
sempre à espera, com alguma ansiedade e a adrenalina no máximo, que
acontecesse ali algo estranho. Dava por mim a ver uma situação
perfeitamente natural e a imaginar o que ia acontecer a seguir. Por
vezes em “Twin Peaks”, o macabro e o terrível surgiam de
situações completamente normais. A cena que relatei acima é o
exemplo que mais recordo dessas situações. Também me lembro de
umas pessoas tranquilamente em sua casa e, pelo lado de fora, alguém
ou alguma coisa mexia nos estores. A cena era acompanhada por uma
música daquelas que indiciam perigo ou medo. Não me lembro o que
aconteceu a seguir.
Foram noites bem
passadas. Naquela altura, tal como hoje, quem me dá uma certa dose
de mistério, de macabro e de sobrenatural, dá-me tudo. Faz parte da
minha essência.
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