O que eu vou passar
a narrar a seguir aconteceu há muitos anos, ainda a estrada de Vale
de Avim não era alcatroada. Estou a contar isto agora porque sonhei
que o estava a contar também ao meu cunhado, à minha irmã...e ao
meu sobrinho que se encontrava ao colo do pai. Foi para quem me quis
ouvir.
Numa tarde, a minha
mãe pegou num atrelado de madeira que tínhamos na altura e resolveu
levar-me às compras. Não fomos pela estrada principal. Pelo menos
não viemos por lá de certeza. Isso faz toda a diferença no
desfecho desta historia.
Naquele tempo, para
além de não haver ainda a chamada “estrada nova” de Vale de
Avim, também os refrigerantes, naquela altura todos conhecidos por
laranjada ou por gasosa, vinham em garrafas de vidro de um litro ou
lá o que era que depois se tinham de devolver.
Naquela tarde, a
minha mãe levou-me então às compras no velho carro de madeira que
só tinha duas ripas de lado para nos segurarmos. Pediu-me então que
segurasse bem a garrafa com as minhas pequenas pernas, já que
precisava dos braços para me segurar.
Quando saímos da
estrada principal e chegámos ao fundo do trilho que dava para aquele
local onde iria ficar a estrada, mas que ainda não estava
alcatroada, a minha mãe guinou o carro com força, na ânsia de me
segurar, soltei as pernas e as compras ficaram todas espalhadas no
meio da estrada de terra batida. Escusado será dizer que a garrafa
da laranjada se partiu em mil pedaços e o líquido borbulhava no
chão.
Outros tempos, sem
dúvida. Hoje quem transporta as crianças num carro de madeira? Quem
lhes coloca à guarda garrafas de vidro? Crescemos assim e ainda cá
estamos.
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