No outro dia, ouvi
alguém dizer, confrontado com as inúmeras mudanças de treinador na
nossa primeira liga, que em Inglaterra seria impensável mudar-se de
treinador tão facilmente. Pois é mesmo de Inglaterra que chega a
mudança de treinador mais inacreditável e mais chocante a que quem
gosta de futebol assistiu nos últimos tempos. Ainda custa a
acreditar.
Depois de ter levado
de forma surreal o modesto Leicester a ser campeão inglês,
competindo com equipas com orçamentos astronómicos e com os
melhores jogadores do Mundo, depois de ter sido considerado o melhor
treinador do ano para a FIFA, Claudio Ranieri é despedido só porque
a equipa está mal classificada na tabela e os resultados não têm
sido os melhores. Já dizia Jorge Jesus quando ainda era treinador do
Benfica: “habituaram-se a ópera e agora não querem bombo”. Foi
isso mesmo que aconteceu àqueles senhores com memória curta e que
não tiveram consciência de que o que aconteceu na época passada
foi quase um milagre. Algo que acontece uma vez na vida. Há equipas
melhores em competição, equipas com muitos milhões para gastar em
jogadores. As duas equipas de Manchester estão num patamar
altíssimo. O Chelsea também. Que queria o presidente do Leicester
agora?
Depois de assistir a
tudo isto, comecei a refletir sobre o estado a que o Desporto,
nomeadamente o futebol, chegou. Estamos numa era em que a pressão é
muita, o dinheiro e os resultados ditam leis, tornando o futebol uma
amálgama de números, símbolos e estatísticas. Esqueceu-se quase
completamente que o futebol é feito de pessoas para pessoas e que é
apenas um jogo, um desporto.
Sinceramente,
entristece ver sair assim um treinador de um clube que levou a
conquistar algo que provavelmente não conseguirá repetir. Depressa
se esqueceu isso. Tendo saboreado a glória, os dirigentes do
Leicester quiseram repetir mas esquecem que será difícil. Foi
injetado mais dinheiro e jogadores cada vez mais caros nas outras
equipas. Foi um milagre o que foi conseguido na época passada.
Claudio Ranieri deveria ficar. Com aqueles jogadores conseguiu muito
e tal foi reconhecido por todos nós que gostamos de futebol e que
hoje estamos chocados com o seu afastamento.
Depois de ter
assistido a isto, há que refletir um pouco sobre o caminho tortuoso
que estamos a seguir. Os valores estão a perder-se de facto no
futebol. Está a transformar-se num monstro triturador e ingrato que
só vê números à frente e deles se alimenta.
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