A noite está fria. Debaixo das cobertas vou ouvindo um pouco
de música e o pensamento vagueia a rédea solta. Percorre o meu dia de trabalho,
demora-se em ideias completamente absurdas e pisa em memórias que eu julgava
esquecidas.
Por vezes fico surpreendida com o rumo que o meu pensamento
leva. Desta vez não pude deixar de esboçar um largo sorriso.
Tinha aí os meus quatro ou cinco anos quando os meus pais
colocaram tijoleira na cozinha. Para mim isso era novidade. O chão e as paredes
tinham agora azulejos e mil e uma brincadeiras começaram por povoar desde logo
o meu pensamento de criança traquina, pejada de imaginação e criatividade,
capaz de fazer de qualquer coisa um brinquedo.
Houve uma tarde em que descobri um filão maravilhoso. O Sol
incidia nos azulejos da parede e eu dançava no chão. A minha figura tornava-se
enorme projectada nos azulejos da parede. Eu aproveitei e inventei ali qualquer
espectáculo de variedades. Não satisfeita com isto, descobri a cereja no topo
do bolo. Se deitasse água no chão, o reflexo na parede era espectacular. Se eu
dançasse em cima da água, teria ali uma tarde bem animada.
Assim passei a tarde. Não me consigo recordar se a minha mãe
ou a minha avo também acharam piada à forma que encontrei para me entreter
naquela tarde mas tenho ideia que não. Pudera! O chão devia estar todo molhado.
Quanto mais água ia despejando no chão, maior era o gozo e a diversão. E se
alguém escorregava?
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