Há uma época na
minha vida que classifico como a época da rádio por excelência.
Aquela época em que o sonho de fazer rádio estava bem vivo.
Absorvia esse mundo intensamente. Era o tempo da magia, do
mistério...do Estúdio Dois que já expliquei o que era e tinha a
ver com a parte de cima do edifício onde estava sediada a Emissora
Voz da Bairrada. Aquela porta estava sempre fechada e imaginava-a
repleta de discos. Imaginava a minha amiga Cristina (por onde andará
ela hoje?) a ir
lá acima às
escondidas para buscar discos muito estranhos. Aqueles que estavam lá
nas profundezas. Depois, noutro lado, noutra rádio, fizemos isso as
duas. Penso que já contei esta história aqui. Não tenho a certeza.
Penso que ouvia
aquela estação de rádio quase vinte e quatro horas por dia.
Conhecia os locutores, muitos deles. Outros não conhecia. De uma era
grande amiga, e continuaria assim se não lhe tivesse perdido o rato-
a Cristina. Acho que ouvia os programas todos. Ao fim de semana,
desde bem cedo, estava o velho rádio ligado.
Nesse tempo, como
bem sabem, os locutores passavam as músicas que lhes desse na gana.
As emissões eram mais diversificadas. A era digital veio estragar
muito essa magia de não sabermos as músicas que estávamos a ouvir.
Era por isso que passava ali cada música mais estranha... Nunca me
canso de repetir, aquilo com a Cristina era levado ao extremo. Comigo
a ajudar, era a loucura.
Havia aos sábados à
tarde um programa apresentado por um locutor chamado Carlos Almeida e
que passava música eletrónica. Quase todos os programas, ele
passava esta música. Mais ninguém a passava. Se calha o disco até
era dele. Também passava Enigma, Gregorian e esses grupos que
estavam na moda por esse tempo. Na altura eu detestava Enigma.
Esta música remete
para o indicativo desse programa que era feito com um pouco de cada
música. Havia muito o hábito das misturas. Quando não havia ainda
computadores para se fazerem misturas, ia mesmo com discos de vinil e
depois gravava-se, normalmente numa cassete. Outros tempos.
Hoje estou inspirada
porque tenho, de facto, boas recordações desses tempos. Ainda hoje
me rio do indicativo desse programa onde passava esta música que deu
origem a este texto repleto de boas memórias. Salvo erro, é a
música instrumental de um filme 007 ou algo assim. É de um filme
qualquer, disso não tenho dúuvidas. Não sei o nome disso para
procurar mas é muito conhecido. Era uma versão eletrónica dessa
música e, segundo eu e a minha irmã- que sempre tivemos a
imaginação fértil- os dois sons que fazem parte da música eram
respetivamente alguém a entrar na missa e a tropeçar nos bancos de
madeira e uma vassoura a cair no chão com o cabo numa divisão com
uma acústica muito boa. É pena eu não ter aqui a música para
melhor perceberem. Depois de identificados os sons, passei-me a rir
porque, a certa altura, eles passam com curtos espaços entre si. Se
eu ao menos soubesse o nome disso…
São tempos que não
voltam. Pequenos pedaços de memórias que me arrancam, ainda hoje,
um largo sorriso.
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