Gosto muito de ler
José Saramago, especialmente pela oportunidade que nunca perde de
lançar duras farpas à Igreja e aos poderosos.
Esta é uma das
obras mais conhecidas do Prémio Nobel da Literatura de 1998 e penso
que é esta a obra que faz parte dos programas curriculares do ensino
secundário. De facto, faz todo o sentido. Para além de estudarmos
um pouco de Português, também aprendemos um pouco de História,
especialmente a de Portugal que tão esquecida anda. Há quem saiba
todas as dinastias. Era obrigatória sabê-las? Eu se algum dia as
soube, já as esqueci completamente.
Por falar em reis,
logo no primeiro capítulo da obra, logo me comecei a rir porque,
para o simples ato de rei e rainha se deitarem um com o outro, havia
todo um aparato de criados de ambos os lados. Não admira que os reis
não conseguissem fazer crianças e tivesse de ser prometida à ordem
dos Franciscanos um convento em Mafra. Todo aquele aparato...nem se
despirem um ao outro os reis conseguiam…
Cada vez que se
falava na Igreja, inevitavelmente, o paragrafo tinha de acabar no
sexo. Sempre. A certa altura, Saramago menciona que apalpam o rabo
uns aos outros na missa. Pois houve alguém na minha aldeia (não sei
quem foi e se calhar a pessoa até já morreu) a quem o médico
perguntou se costumava ir à missa. A senhora respondeu que já não
ia à missa...desde que lá lhe apalparam o cu. Sempre atento ao
mundo rural e ao que se passa no Portugal Profundo, José Saramago
certamente ouviu falar desta história. Ou então passa-se mesmo isto
frequentemente em todas as missas, seja na mais bonita e opulenta
basílica, até à capela só com uma porta no meio de quatro
paredes.
Também notei a
excessiva preocupação de Saramago em fazer descer a realeza à sua
condição humana. Os exemplos nesta obra são muitos. Foi uma
constante em todo o livro. Apesar de todo o luxo, toda a riqueza, os
reis e rainhas não passavam de simples homens e mulheres, como o são
os mais singelos representantes do povo.
Uma obra à
Saramago, digamos assim. Vai lançando umas farpas, dizendo umas
verdades e assim vai prendendo o leitor.
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