Depois de 2004, a
minha vida nunca mais foi igual. Tudo o que hoje é a minha
realidade, naquela altura estava muito longe de se concretizar. Onde
estaria eu hoje se as coisas não tivessem acontecido assim? Vejo os
meus colegas nos Jogos Paralínpicos. Alguns ainda são mais velhos
do que eu. Andaria eu também por lá? Teria conseguido fazer algo na
minha área? Não sei responder a essas perguntas. O que sei é que
hoje estou a aqui, escrevendo umas linhas e preparando-me para mais
um dia de trabalho, o que já é bom, embora sonhasse outras coisas
para a minha vida, coisas que estava a conseguir nesse início de
2004. Por escassas semanas, estava a fazer tudo o que gostava ao
mesmo tempo.
Esta música marca a
minha ida para Miranda Do Corvo. Faz-me lembrar esses primeiros
tempos na ADFP. Parti para lá dias depois da trágica morte de
Miklos Feher. Levava comigo o sonho de mudar alguma coisa mas...por
ironia do destino...consegui dar uma volta muito grande na minha
vida, não por escolhas que tenha feito ou por minha
responsabilidade, mas porque simplesmente a vida quis assim e contra
isso não pude lutar mais.
Voltando a este
tema, ele lembra-me um final de manhã na olaria. Aquele cheiro a
barro. O rádio a um canto, sintonizado na RFM (era a rádio que toda
a gente ouvia ali). Estava ali um grupo de pessoas, das quais hoje só
me recordo de uma ou duas. As outras já se esbateram. Passou esta
música e logo começaram a falar do Feher. Tinha sido há pouco
tempo que ele falecera.
Talvez aquele tenha
sido o primeiro dia que entrei na olaria, que voltei a mexer em barro
muito anos depois, que o tentei moldar, que também julgava moldar e
criar algo de bom para a minha vida. Escassas semanas depois, tudo se
iria alterar novamente e sem que eu estivesse a contar que tais
mudanças se fizessem numa fase tão precoce da vida, na plataforma
para a realização dos meus sonhos pelos quais tanto havia lutado
antes.
Uma coisa eu tenho
certa, depois de 2004, nada na minha vida voltou a ser igual.
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