Monday, November 04, 2013

Uma festa excessivamente bem regada





Este foi mais um sonho do qual acordei algo confusa e a ofegar pouco antes de o despertador ter tocado. Não é que se tenha tratado de um pesadelo, pois não foi. Tratou-se isso sim de um sonho vivido com grande intensidade.

Era o aniversário de uma colega de trabalho que havia convidado aí umas cem pessoas. Havia amigos meus e familiares meus que jamais poderiam ser amigos comuns de nós duas, dado ela viver em Lisboa e eu em Anadia. Havia ali gente de todas as idades, colegas de trabalho, pessoas completamente estranhas que nunca vi e até havia famosos.

O local era desconhecido mas situava-se junto à capela da minha terra, onde fazem o arraial la da aldeia. Aí havia poucas alterações oníricas. O interior do local era algo que eu nunca tinha visto antes.

A comida era abundante e requintada e a bebida era exageradamente diversificada, daí o desastroso resultado que se veio a verificar. Se gostamos de provar um pouco de cada iguaria num banquete, já o mesmo não se pode fazer com as exóticas bebidas alcoólicas que ali estavam.

A certa altura, já se viam pessoas bem entronadas, até a minha irmã e uma amiga nossa, imagine-se. Riam e cantava… eu pensava: “se esta gente continua assim a exagerar, quem é que amanhã vem trabalhar?”. A aniversariante também falava pelos cotovelos.

Eu apenas bebia cerveja e encontrava-me razoavelmente sóbria, apesar de já ver as coisas um pouco brilhantes mas nada que se comparasse ao visível estado de embriaguez de qualquer um dos presentes na festa. Ia assistindo a muita gargalhada, muita cantoria e muita conversa sem sentido. Muito bem! Enquanto for só assim, até estamos bem. Pior é quando tudo descamba para o que a seguir passo a narrar.

Localizava eu o espaço físico do meu sonho algures perto da capela mas na verdade parecia-se mais com o actual local de trabalho, daí eu me questionar várias vezes durante o sonho como é que toda a gente vinha trabalhar no dia seguinte, tamanhas eram as suas pielas. Quando as pessoas correram para a rua e eu fui atrás, foi pela porta principal do meu actual local de trabalho que saíram e as pessoas que já se encontravam no chão a fazer figuras deploráveis estavam exactamente à entrada real do estabelecimento. Nem os montes de areia das obras foram esquecidos pelo meu subconsciente e o passeio tinha exactamente as mesmas nuances. A descida da rua era mais íngreme e…ia dar ao lugar, tal como a descida da capela. Aí sim, existe uma descida com as características da do sonho e escusado será dizer que não há passeio.

Depois dos risos, das cantorias, das conversas sem sentido e de mais uns copos, a certa altura, houve quem ainda tivesse forças para correr na direcção da rua. Era uma rapariga que parecia envergar parte de um traje académico, pois claro. Não tinha o casaco, nem a capa, apenas a saia preta e a blusa branca com a gravata. Segui-a, pressentindo o que ela ia fazer quando chegasse à rua. Não me enganei.

Havia dezenas de pessoas sentadas, deitadas, de costas, de barriga para baixo, de joelhos, de mãos no chão como se estivessem a fazer flexões, uma chinfrineira de vómitos, o chão todo nojento…

Sempre pelo passeio fora para não pisar ninguém, resolvi afastar-me dali enquanto observava toda aquela gente que não conhecia a fazer figuras tristes. Um indivíduo aí dos seus quarenta e muitos anos e já calvo, envergando também calças pretas e camisa branca, parecia bastante aflito rebolando-se no chão. Eu fui descendo a ladeira a pique, prometendo não passar ali mais tarde porque o chão estaria intransitável com a maré de vómito.

Já estava quase ao fundo da ladeira quando comecei a ouvir uma ambulância. Poucos instantes depois, já estava a passar por mim a alta velocidade uma ambulância das amarelas do INEM que parou mais adiante. Queria assistir à evacuação daquela gente toda mas sentia que ali estava a perturbar.

Passou depois uma ambulância branca com uma risca azul e outra também branca com uma risca vermelha. Outras se seguiram. Eram de facto muitas pessoas a precisar de socorro. As bebedeiras eram mesmo do caixão à cova.

Assistia de longe ao carregamento das pessoas. Pernas destapada em desalinho, completamente flácidas, corpos que já não reagiam, parecendo em coma alcoólico eram carregados para o interior das ambulâncias.

Enquanto assistia a tão deploráveis cenas, reflectia nas figuras tristes que toda aquela gente estava a fazer. Mais uma vez pensava como é que toda aquela gente ia trabalhar no dia seguinte.

Talvez este sonho ou parte dele se tivesse a dever ao facto de passar uma ambulância na rua. Às vezes isso acontece.

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