Texto escrito no âmbito de um trabalho académico de um aluno brasileiro.
Muito há a dizer sobre estas linhas. Como se deve lidar com uma criança cega ou com um cego que encontramos na rua. Esse último ponto é por vezes confrangedor porque as pessoas não sabem como lidar connosco e optam pelo errado em vez do certo na grande maioria das vezes.
As pessoas não conhecem o nosso mundo e por vezes a falta de civismo leva ao resto. Se soubessem o transtorno que por vezes causam…
Muitas vezes oferecem-se para ajudar e, ao verem que não precisamos de ajuda, ofendem-se. Acontece diariamente comigo quando me cruzo na rua com alguém no meu caminho rotineiro. As pessoas devem pressupor de antemão que, tal como elas, temos um destino, temos de ir a algum sítio. Esse sítio não é para onde elas querem que nós vamos. Já aqui tenho contado episódios incríveis de pessoas que nem para a minha própria casa me deixam ir em paz. Quando eu preciso de ajuda e me oferecem para ajudar eu aceito. Pegar-me e desviar-me da minha rota é completamente descabido e pode desorientar.
Todos os dias digo a mesma coisa ás pessoas, não sempre ás mesmas: preciso de encostar ao muro ou ao caixote do lixo para ter referência para seguir o caminho. Através da visão, as pessoas conseguem ver por onde andam com maior abrangência, nós precisamos de sentir as coisas. Já pararam para pensar como é que nós sabemos onde estamos? Pensem nisso da próxima vez que me virem a mim ou a alguém procurar uma parede, um lancil ou algo que sirva de referência.
As coisas fora do sítio, que é algo aqui abordado causam grandes transtornos. Eu sou suspeita pois, mesmo quando via, detestava coisas mudadas de sítio. Ainda ontem, nem de propósito, devido ás obras do MetroBus, o passeio por onde eu habitualmente andava encontra-se obstruído com grades. Já tenho de, mentalmente, construir outro percurso do outro lado da rua. para as outras pessoas isso não é problema mas para nós é um grande constrangimento.
Para melhor nos integrarmos, tem de haver respeito mútuo e muita compreensão. Perceber que o nosso cérebro até funciona de forma diferente, pois faltam os noventa e tal por cento de estímulos visuais que o cérebro humano processa todos os dias.
Temos de saber viver, embora não seja fácil.
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