Sunday, November 17, 2019

Moído com porrada



Os sonhos têm a particularidade de misturarem pessoas, locais e tempos. Neste caso, os protagonistas são seguramente duas pessoas que não se conhecem e muito menos estiveram no local que serviu de ringue ao seu “combate”.

Comecemos por descrever o local do encontro muito pouco amistoso, diga-se de passagem. Pouco alterado oniricamente, era nada mais, nada menos, do que o salão da ACAPO. As luzes estavam todas ligadas. Se as pessoas iam jogar á pancada, tinham de ter luminosidade a condizer, não acham?

As suas roupas é que eram triviais. Nada de lantejoulas ou calções de boxe coloridos. As luvas também não existiam. Façamos de conta que eles estavam na rua e se desentenderam ferozmente por alguma coisa! Suponhamos que foi por causa do trânsito. Ninguém vai vestido a rigor para lutar na rua. Ali devia ser igual. O estranho desta situação é que estas duas pessoas não estavam na rua, muito menos numa repartição de finanças ou fila de supermercado, locais também suscetíveis de haverem destas altercações ferozes entre desconhecidos.

Para mim, essas duas pessoas que se matavam de pancada no salão da ACAPO não são desconhecidas. Existem mesmo na vida real. Alguma vez poderem estar juntas, só mesmo em sonhos, como agora acontece. Uma delas eu conheço pessoalmente. Foi minha vizinha durante muitos anos.  O outro interveniente era…o Rashidov, imagine-se!

Carla- a minha antiga vizinha- envergava umas calças pretas e camisola da mesma cor. O antigo jogador do Nacional da Madeira trazia uma camisola verde de manga comprida e calças azuis de ganga. Trazia também uns sapatos pretos.

Juntámo-nos no salão para ver o “combate”. De início, as forças equivaliam-se, apesar de as diferenças físicas, de altura e de género serem desequilibradas. Depois, a minha vizinha desatou numa sequência de murros e pontapés rápidos que surpreenderam o seu oponente. Surpreendentemente, ela era bem mais ágil do que ele. Para cada soco que ele aplicava, surgiam cinco pontapés certeiros dela. Eu estava boquiaberta com a sua agilidade que eu lhe desconhecia. Onde aprendeu ela a combater assim? Parecia possuída. A certa altura, o Rashidov encolheu-se, também ele surpreendido com a bravura da sua oponente. Ela continuou a bater-lhe, cada vez com mais entusiasmo e garra. Ela mantinha-se com alguns traumatismos, enquanto que ele já mal se detinha em pé. Carla parecia ganhar novo ânimo +à medida que o adversário se foi acobardando e ficando mais ferido. Já cambaleava e recebia cada soco ou pontapé da Carla com uma expressão de horror. Parecia implorar para que ela não lhe batesse mais mas ela continuou mesmo quando ele caiu no chão com o sangue a jorrar pelo soalho.

Não sei quem a mandou parar. Ela não pararia por iniciativa própria, tal era o entusiasmo. Rashidov jazia inerte no chão. Se estava morto ou vivo, não sabíamos. Inconscientemente sabíamos que tínhamos de agir rápido, pois a sua situação parecia grave.

Acordei admirada com os personagens e o cenário improvável de mais um sonho muito estranho.

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