Os sonhos têm a particularidade de misturarem pessoas,
locais e tempos. Neste caso, os protagonistas são seguramente duas pessoas que
não se conhecem e muito menos estiveram no local que serviu de ringue ao seu
“combate”.
Comecemos por descrever o local do encontro muito pouco
amistoso, diga-se de passagem. Pouco alterado oniricamente, era nada mais, nada
menos, do que o salão da ACAPO. As luzes estavam todas ligadas. Se as pessoas
iam jogar á pancada, tinham de ter luminosidade a condizer, não acham?
As suas roupas é que eram triviais. Nada de lantejoulas ou
calções de boxe coloridos. As luvas também não existiam. Façamos de conta que
eles estavam na rua e se desentenderam ferozmente por alguma coisa! Suponhamos
que foi por causa do trânsito. Ninguém vai vestido a rigor para lutar na rua.
Ali devia ser igual. O estranho desta situação é que estas duas pessoas não
estavam na rua, muito menos numa repartição de finanças ou fila de
supermercado, locais também suscetíveis de haverem destas altercações ferozes
entre desconhecidos.
Para mim, essas duas pessoas que se matavam de pancada no
salão da ACAPO não são desconhecidas. Existem mesmo na vida real. Alguma vez
poderem estar juntas, só mesmo em sonhos, como agora acontece. Uma delas eu
conheço pessoalmente. Foi minha vizinha durante muitos anos. O outro interveniente era…o Rashidov,
imagine-se!
Carla- a minha antiga vizinha- envergava umas calças pretas
e camisola da mesma cor. O antigo jogador do Nacional da Madeira trazia uma
camisola verde de manga comprida e calças azuis de ganga. Trazia também uns
sapatos pretos.
Juntámo-nos no salão para ver o “combate”. De início, as
forças equivaliam-se, apesar de as diferenças físicas, de altura e de género
serem desequilibradas. Depois, a minha vizinha desatou numa sequência de murros
e pontapés rápidos que surpreenderam o seu oponente. Surpreendentemente, ela
era bem mais ágil do que ele. Para cada soco que ele aplicava, surgiam cinco
pontapés certeiros dela. Eu estava boquiaberta com a sua agilidade que eu lhe
desconhecia. Onde aprendeu ela a combater assim? Parecia possuída. A certa
altura, o Rashidov encolheu-se, também ele surpreendido com a bravura da sua
oponente. Ela continuou a bater-lhe, cada vez com mais entusiasmo e garra. Ela
mantinha-se com alguns traumatismos, enquanto que ele já mal se detinha em pé.
Carla parecia ganhar novo ânimo +à medida que o adversário se foi acobardando e
ficando mais ferido. Já cambaleava e recebia cada soco ou pontapé da Carla com
uma expressão de horror. Parecia implorar para que ela não lhe batesse mais mas
ela continuou mesmo quando ele caiu no chão com o sangue a jorrar pelo soalho.
Não sei quem a mandou parar. Ela não pararia por iniciativa
própria, tal era o entusiasmo. Rashidov jazia inerte no chão. Se estava morto
ou vivo, não sabíamos. Inconscientemente sabíamos que tínhamos de agir rápido,
pois a sua situação parecia grave.
Acordei admirada com os personagens e o cenário improvável
de mais um sonho muito estranho.
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