Mas por que carga de água tenho eu sonhado tanto nos últimos
dias com a Odete? Estranho!
Primeiro comecemos a descrever esta noite onírica com aquele
que será um verdadeiro pesadelo de gente que perdeu a capacidade de ver. As
inquietações visuais são substituídas pelos sons horríveis que o nosso
subconsciente inventa.
Se pensam que a
ausência de imagens torna um pesadelo menos assustador, estão redondamente
enganados. Um simples som pode incomodar mais do que um punhado de imagens
assustadoras. Um som permanece entranhado na nossa mente mais dias do que uma
imagem. Essa é a perceção que tenho tido ao longo destes meses.
O mais inquietante neste sonho é que parecia bem real.
Estava deitada na minha cama e comecei a ouvir ao longe o som angustiante de
uma ambulância que seguia algures pela estrada em enorme velocidade. Comecei a
magicar no que teria acontecido a uma hora morta da madrugada para a ambulância
vir a fazer tal alarido sem que houvesse grande trânsito na estrada. O som era
cada vez mais cadenciado e mais angustiante. Chegou a um momento que já não o
podia ouvir. Estava-me a causar uma sensação de opressão, de angústia, de
tristeza. Pressentia que nada de bom se estava a passar ali. Já não suportava
mais ouvir um silvo que fosse daquele veículo que passava lá ao longe. Acordei
aliviada por a noite estar aparentemente calma. Nem um ruído se ouvia.
Voltei a adormecer e sonhei com algo completamente
diferente. Sonhei que o meu quarto tinha aumentado de tamanho e tinha agora
mais do que uma cama. Mais parecia um hospital ou uma pousada. Era de manhã e
acordámos com alguém a apresentar o quarto a outra pessoa que ia partilhar o
aposento connosco. A opção era ficar…na parte de cima do meu armário, imagine-se!
Eu estava intrigada. Na cama ao lado, Odete despertava em
cuecas e…com uma camisola do Sporting vestida que lhe era demasiado larga e lhe
dava pelos joelhos. Usava-a para dormir…
Eu coloque-a a par da minha inquietação. Seria mais alguém
para fazer barulho.
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