Numa espécie de
continuação do sonho anterior em que se festejava o São Martinho
na rua com castanhas e muito álcool, as festividades continuaram
numa espécie de pavilhão, cujas instalações eram um pouco
labiríntico, tão do apanágio das instalações dos sonhos. Aqui
vai fazer toda a diferença.
Entretanto,
aguardava-se com grande entusiasmo a chegada de uma equipa angfoana
de Futsal para vir jogar com outra equipa. O jogo seria nesse
pavilhão e seria o ponto alto das festividades. Do outro lado havia
grandes estrelas.
O pavilhão tinha
imensa gente, a julgar pelo barulho que se fazia sentir nas bancadas.
A cada jogada, o público vibrava, como não podia deixar de ser.
Reinava a magia na quadra, a assistência fazia a festa e nada fazia
prever o que se iria seguir.
Já um pouco bebida,
eu estava da parte de fora juntamente com uma outra rapariga que não
conhecia e que falava com sotaque brasileiro. Era a quadra onde
evoluíam os jogadores, havia as bancadas e depois havia o resto das
instalações que eram um autêntico labirinto de portas . Isto vai
fazer toda a diferença. Já vão ver.
De repente, os
gritos que vinham das bancadas já não eram de júbilo. Os cânticos
de festa foram substituídos de forma abrupta por horríveis gritos
de pavor. Virada de costas para o que estava a acontecer, eu
questionava o que se estava a passar. Por que é que toda a gente
estava aos gritos?
Ao mesmo tempo, uma
força especial armada irrompeu de todas aquelas portas. Um deles
pediu-nos para nos afastarmos depressa dali, pois iam atirar à cara.
À cara de quem? Só se começaram a ouvir estilhaços. Eu acordei
com o coração aos saltos. Sentia a adrenalina a percorrer o meu
corpo como uma vertigem elétrica. Estava a viver aquele sonho muito
intensamente. Olhei para o telemóvel. Pouco passava da uma e meia da
madrugada. A julgar pelo movimento onírico, pensava que eram aí
umas cinco da manhã.
Voltei a adormecer e
voltei a pegar no sonho conforme o deixei. É incrível. Se estivesse
a sonhar com uma coisa boa, isso não acontecia. Realmente, a
história tinha de acabar. Os atiradores voltaram a correr pelas
portas. Pela instalação sonora conseguiu-se ouvir que estava um
cadáver estendido na quadra. Por isso o jogo não devia ser
retomado. Como se, na vida real, fosse necessário avisar o público
de tal facto. Os atiradores tinham abatido o indivíduo que
inicialmente disparara sobre o público ou ameaçou disparar, não
tenho bem a certeza. Ele foi abatido naquele intervalo em que eu
acordei. Quer-se dizer, estive acordada mas o sonho prossegui.
A minha amiga veio
pelo outro lado do labirinto para ver o que se passava. Eu continuei
virada de costas. Não queria ver fosse o que fosse. O que estava a
ouvir já estava a ser mau demais.
Ela deu uma olhada à
quadra mas logo recuou para trás enojada. Com as mãos na boca,
segurando o vómito que já se formava, ela tentava desesperadamente
encontrar uma casa de banho no meio de um corredor redondo com muitas
portas fechadas.
Ela desapareceu no
interior de uma dessas portas. Não sei se era mesmo ali a casa de
banho. também não interessava muito. A tarde que devia ser de festa
já estava irremediavelmente estragada.
Que noite!
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