É incrível como, em certa altura da minha vida, fugia
positivamente desta música porque ela me assustava de certa maneira, vá lá
saber-se porquê. Hoje adoro isto. É uma das grandes canções que conheço.
Aí em meados dos anos oitenta, esta música passava muito na
rádio. Eu julgo que a morte de Elis Regina remonta ao final dos anos setenta
mas não tenho bem a certeza. Uma vez, estava eu em casa de uma tia minha. Penso
que a minha prima ainda era muito pequena e o pai dela trabalhava de noite. Ele
preparava-se para ir trabalhar e ouvia rádio no quarto. Estava a passar esta
música e eu…vim para a rua. Não suportava mesmo esta canção. Era uma tortura.
Tais acordes provocavam em mim uma sensação deveras assustadora. Hoje as coisas
não são assim, bem pelo contrário.
Quando é que tudo mudou? Uma manhã adormeci a ouvir rádio. A
certa altura, estando a sonhar e a ouvir tudo o que passava na rádio, não pude
fugir desta música. Estava a dormir. Estava numa fase em que se pode controlar
o sonho e esta música estava-me a levar por caminhos bem agradáveis, ao
contrário do que acontecia na realidade. Estava a levitar ao som destes acordes
outrora bem assustadores para mim. Na parte final, quando Elis Regina canta o
refrão com outras pessoas, o sonho lúcido atingiu o auge e estava-me a sentir
extremamente feliz. Juntei-me ao coro e cantava também. Apesar de não ser
difícil cantar isto, para quem fugia desta música, até estava bem afinada.
A partir desse dia, passei a adorar esta canção, tal como
hoje adoro outras que também detestava em criança. Esta é especial porque eu
não tolerava mesmo ouvir isto. Tinha medo desta música ou algo assim.
Causava-me arrepios.
Para completar a informação de há pouco, Elis Regina faleceu
a 19 de Janeiro de 1982, nessa altura, portanto. Talvez eu soubesse, de certa
forma, que a intérprete de “Romaria” já tinha morrido e isso talvez fizesse com
que eu nem sequer tolerasse ouvir a música.
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