Sunday, July 26, 2015

Mas afinal quem foi que morreu?



Consta que dormi toda a noite. O problema foram os sonhos que tive imediatamente antes de acordar. Espreitando pelos estores corridos, constatei que já era dia e o despertador iria tocar dali a poucos minutos. Já não haveria tempo para voltar a adormecer e tentar sonhar com outras coisas mais interessantes.

Esta não é a primeira vez que tenho um sono semelhante a este. Algem da família da minha vizinha morreu e o funeral sairia lá de casa. Neste sonho foi um rapaz jovem e a causa de morte foi uma doença contagiosa na pele.

A azáfama era enorme na rua. Eu tentava refugiar-me em casa, especialmente no meu quarto, para não estar a assistir a estes dolorosos rituais. Na rua já havia muita gente e eu tinha-me vestido para fazer uma caminhada. O meu rádio também estava alto para que nenhum som do exterior me chegasse.

A minha vizinha levou para cima da mesa da sala um telefone antigo, ainda daqueles de discar, e começou a fazer telefonemas de forma muito atabalhoada. Enganava-se nos números, depois o telefone tocava de forma estridente. Já nem o podia ouvir, apesar de o volume do meu rádio ter aumentado. Ela queria avisar toda a gente da hora do funeral que era às quatro horas desse dia. Eu estranhava o facto de o corpo ainda não ter chegado. Eram três e meia da tarde.

Fui para o meu quarto novamente. Fechei a porta, aumentei o volume do rádio mais uma vez mas o barulho na rua era crescente. Movimentos de carros, pessoas, o normal nestas alturas. De repente, um silvo horrível faz-se ouvir e abafa todos os sons. Como o descrever? Era um som prolongado, fazendo lembrar o som dos amoladores, mas mais sinistro. Mas o que é que era aquilo?

Não resisti a olhar pela janela. Era o carro funerário…que tinha parado à minha porta e estava a fazer manobras para voltar para trás. Claro, aquele som horrível só podia vir de um veículo tão sinistro. Eu é que desconhecia que aqueles carros fizessem tal barulho. Era um som mesmo melancólico que causava angústia. Um som mesmo daqueles de fazer doer o coração. Cravava bem fundo. A tristeza apoderava-se facilmente de quem o escutasse. Era assim que me sentia ali. Espreitava. O carro seguia aos repelões pela estrada, com uma tracção muito deficitária. Não dava para ver se havia o caixão lá dentro. Parece que não, o corpo já tinha sido deixado em casa da minha vizinha, de onde sairia o cortejo fúnebre. Agora o carro tentava dar a volta e passar pelos outros veículos, penso eu. Depois talvez passasse por lá por casa da minha vizinha, apesar de não me sentir com coragem e ânimo para o fazer. De referir que não conhecia o falecido.

Acordei deste sonho com sensações bem reais. Pela claridade que vinha da rua, não haveria tempo para dormir e recuperar destas emoções. Será melhor assim?


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