Será este o post do ano de 2014? É que este sonho é simplesmente incrível, surreal e completamente louco. O que o torna mais estranho é o realismo com que foi vivido. Posso dizer que ainda acordei a bufar, já a manhã ia alta. Não me preocupei. Preciso de descansar, pois esta semana que passou foi árdua em termos de trabalho.
A historia passa-se num campeonato internacional de Atletismo para deficientes visuais que decorreu na Holanda. Era o último dia de competição e já se recolhiam todos os adornos. A cerimónia de encerramento estava marcada para essa noite. Eu ajudava a recolher bandeiras e ia enfiando algumas na minha mochila para levar como recordação. Com tudo isto, perdi o meu casaco de fato de treino. Mas depois, no final do sonho, quando discutia para quem me quisesse ouvir, trazia-o vestido. Que engraçado! De referir que o casaco era azul e cinzento, como uma camisola que ainda devo ter lá por casa.
Preparavam-se já as coisas para o final de competição mas ainda havia provas nessa tarde. Por acaso elas decorriam num pavilhão amplo e pouco iluminado e não numa pista de Atletismo. Para o final estava marcada uma prova de mil e quinhentos metros em que eu participava. Os atletas iam todos à mistura. Homens, mulheres, todas as categorias da deficiência visual…era uma alegria.
Para além de ter estranhado o facto de ir tudo ao molho, ainda estranhei mais o facto de ir com um guia. Mas espera aí, já antes corri com guia, apesar de não ser obrigatório, especialmente em provas de meio-fundo e fundo mas era raro fazer essas provas. Só mesmo em provas combinadas. Eu fazia sempre corridas de velocidade. Bem, era uma prova de mil e quinhentos metros. Era uma prova de meio-fundo. Levava guia. O que não é normal é o guia não ver mesmo nada e eu ainda ver. O meu guia era o Ferreira. Fiquei indignada. Mas quem teve esta ideia peregrina?
Soou o tiro de partida e nós já ficávamos para trás. Eu correr agora só no parque da cidade e é para manter a forma. Agora no Inverno nem isso faço. Ficámos para trás e fomos logo dobrados. Ainda não estava concluída uma volta. Nós continuávamos que nem lesmas sobre o soalho do pavilhão.
Quando faltavam sensivelmente escassos cento e cinquenta metros para o fim, o meu guia parou simplesmente e puxou-me para trás. Disse que íamos a andar devagar demais. Subiu-me logo a mostarda ao nariz e não haveria Reiki nenhum no Universo que me fizesse ficar calma. Na vida real não me ralava se ele desistisse, simplesmente teria continuado sem ele mas tratava-se de um sonho.
Preparava-se tudo para os discursos finais, a cerimónia de encerramento e tudo mais. Eu levantei o dedo e disse que queria protestar e logo desci, peguei num microfone e disse todo o que me ia na minha alma indignada. Enquanto debulhava o meu discurso inflamado, ia pensando no Reiki, especialmente naquele preceito que diz “só por hoje sou calma”. Depois também pensei que uma situação como esta irritaria até Buda.
O Senhor Mário estava na mesa e eu comecei a discutir inicialmente com ele a perguntar quem tinha tido a ideia de colocar um guia cego para me guiar. Ele disse que tinha sido o pessoal de Lisboa. Eu estava indignada. Apetecia-me mesmo bater em alguém. Limitava-me a barafustar e a gesticular. O casaco de fato de treino que havia perdido estava com as mangas arregaçadas pelos cotovelos.
Aos berros e de lágrimas nos olhos, fui dizendo que nunca na vida havia desistido de nada, que era uma vergonha desistir, que não estava nos meus princípios. Desceu o Ferreira até onde eu estava. A minha raiva subiu. O Senhor Mário aparentava aquela calma que se lhe reconhece mas o Ferreira veio-me dar troco.
Disse ele que tínhamos desistido porque íamos a andar devagar demais. Que eu estava uma lesma, que não treinava há séculos e por aí adiante. Eu argumentei, já com a voz esganiçada. Repare-se bem no que eu debulhei durante este discurso bem inflamado! Sentia já a garganta a arder de tanto gritar e discutir.
Fui argumentando que apenas estava a participar na prova e que tinha de chegar ao fim. Que queria acabar a prova, pois era a minha despedida das pistas e não teria outra oportunidade de me redimir da imagem de fracassada que aqui deixava. Que não tinha tempo para treinar a sério porque tinha o meu emprego e era ele que me dava de comer. Que por vezes tinha de ficar a trabalhar para além da hora de saída porque havia coisas urgentes para fazer. Que agora até tinha as lojas da Linha de Sintra…Do que me fui lembrar!
Como referi, acordei ainda a bufar. Fiquei aliviada por se ter tratado de um sonho e depois comecei-me a rir mesmo a bom rir.
Antes havia sonhado com as minhas gatas que resolviam dançar na estrada. Ah e sonhei que comia carne crua como terapia. Dizem que esse sonho é tido quando o corpo precisa de comer.
Seja como for, dormi até às tantas.
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