Thursday, January 23, 2014

“Morte De Um Estranho” (impressões pessoais)


Esta é mais uma obra inspirada no sempre inesgotável e riquíssimo mundo d Máfia. Vamos conhecer Victor, mais um que trabalhava para um grupo mafioso e ignorava-o completamente. Aliás, deve ser uma das características da Máfia, recrutar gente honesta por ai para fazer o que eles querem, por mais estranho que pareça. Se um empregador for ao Centro de Emprego e abordar alguém dizendo de caras que vai trabalhar para a Máfia, quem aceiraria a proposta de emprego? Acho que ninguém. A não ser por ficar aterrorizado. Por mais desesperado por trabalho que se esteja, ninguém aceitaria de livre vontade trabalhar para a Mafia.

Este livro escrito por Andrei Kurkov conta-nos a história de Victor- um jornalista desempregado que também escreve uns contos. Victor levou um pinguim do Zoo de Kiev para casa para cuidar dele e era a sua única companhia. Como o pinguim se alimenta de peixe congelado e exige cuidados que um gato ou um cão não exigem, Victor estava desesperado por um trabalho e resolveu levar os seus escritos a jornais para passar a colaborar com eles. Todos recusaram, menos um que não se cingiu a publicar os contos de Victor. O chefe de redacção propôs-lhe um trabalho estranho e macabro: escrever obituários de pessoas que ainda estavam vivas.

Com o tempo, Victor constatou que as pessoas que eram protagonistas dos seus escritos morriam e a sua obra era publicada no jornal. Ele e o pinguim começaram a ser convidados a assistir aos funerais luxuosos de algumas dessas pessoas. Algo estranho se passava.

O que realmente se passava era que um grupo (para o qual Victor trabalhava sem o saber) estava a fazer aquilo a que chamavam “limpeza sanitária”, abatendo figuras da sociedade ucraniana com sucesso pessoal e financeiro e que parecia que nada lhes chegava em termos de justiça. Terão cometido fraudes mas continuavam impunes. Então a Mafia encarregava-se de fazer justiça com as suas próprias mãos.

Victor fica a saber de tudo quando persegue pelos seus próprios meios um indivíduo que ele desconfiava que o andava a seguir com más intenções. Chegando a casa deste, percebe que já não trabalha mais no jornal que terá mudado de direcção e de chefias. O indivíduo era o seu substituto e estava a elaborar o obituário de Victor com todos os pormenores do que ele tinha feito sem ter conhecimento disso.

Então Victor tem de fugir. Está sentenciado de morte, como todos os outros de quem fez os seus obituários.

Foi curioso perceber algumas coisas nesta obra. Ri-me ao ler o que Victor estava a escrever num obituário para uma cantora lírica. Também não sabia que era hábito na Ucrânia as pessoas virem de um funeral e comerem e beberem em honra do defunto até mais não poderem. Digamos que as bebedeiras nesses banquetes eram mesmo do caixão à cova, passe a expressão. Também percebi que, sempre que for a casa de um ucraniano, terei de tirar os sapatos à porta de casa e calçar uns chinelos.

Foi uma leitura agradável, apesar do pouco suspense que a obra teve.

Uma última nota: no momento em que escrevo estas linhas, ouço as notícias. Da Ucrânia chegam notícias de graves confrontos nas ruas e de manifestações reprimidas.

Da Ucrânia dos anos noventa, passemos para os Descobrimentos. Vou ler “História Tragico-Marítima”.

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