A
notícia do dia dava conta do desaparecimento de uma criança para os
lados de Ourém enquanto a avó foi para dentro de casa picar uma
cebola.
A
partir desta notícia, fragmentos de um episódio têm povoado a
minha mente. São fragmentos de uma ocasião em que eu me pus a andar
sem parar, até que alguém me encontrou e me levou de volta a casa
por entre lágrimas, ranho e fungadelas.
Seguramente
tinha mais de dois anos e era terrível (ainda hoje sou terrível mas
naquela altura era mais). Era daquelas pessoas que não brincava com
outras crianças mas, sozinha, fazia coisas que não lembravam a
ninguém. Ainda hoje as faço…
A
casa de forno da minha casa estava a ser construída naquela época.
Os pedreiros tinham já colocado alguns tijolos na parede e eu
estava, como sempre, ao pé deles. Muitas vezes até pegava nas
ferramentas e tentava colocar também. A parte do forno dá para a
parte de trás de minha casa onde fica o quintal, dando acesso dali a
umas terras e a uns caminhos que hoje conheço tão bem...mas na
altura pareciam-me longe de mais.
Os
pedreiros tinham deixado uma abertura no local que naturalmente iria
ser a porta da casa de forno. Vendo que aquilo era para sair, foi por
ali mesmo que me esgueirei e fui quintais fora. Lembro-me que
envergava uma camisola amarela. Sempre dava para distinguir ao longe.
Lembro-me
que comecei a andar, a andar...a andar. À medida que ia andando,
cada vez ia ficando mais desesperada, pois já não sabia onde
estava. Mesmo assim, continuava a andar. Lembro-me que o trilho deu
lugar à estrada alcatroada. Hoje, ao rever o caminho, não posso
deixar de me rir. Se acaso andasse para baixo, não haveria problema.
Ia dar a casa pela certa mas...eu resolvi mesmo complicar e andar
para cima.
Ia
virada a Vila Nova já a gritar pela estrada, lembro-me bem. Foi
então que um senhor veio ter comigo e me perguntou se eu ia ver o
meu avô. Disse-me que era avô dos meus vizinhos (pai do pai deles)
e levou-me para baixo. Quando vi a casa dos meus vizinhos, lembro-me
que senti um alívio enorme. O meu vizinho veio ter com o avô,
também me lembro vagamente e fomos andando para baixo102016.
Eu
sempre gostei muito de andar por atalhos. Como se pode ver, comecei
bem cedo.
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