Sunday, November 16, 2014

“Desconhecidos” (impressoes pessoais)


Esta foi mais uma leitura fascinante que nos trouxe o japonês Taichi Yamada.

Como guionista e criativo que é, o escritor nipónico escreve este romance quase autobiográfico contado na primeira pessoa por um personagem que, tal como ele, é guionista.

O guionista desta história separou-se recentemente da mulher por já não funcionarem enquanto casal e esta levou-o quase à ruína. A solução foi mudar-se para o pequeno apartamento que lhe servia de escritório durante o dia. Sendo um edifício de escritórios, de noite o prédio ficava quase deserto. Apenas morava no terceiro andar uma mulher que ostentava uma queimadura no peito e, por isso, nutria uma baixa auto-estima a ponto de se ter suicidado por o protagonista, desiludido por ter perdido a sua mulher para o seu amigo, não a querer receber.

O leitor não sabe desse pormenor até ao fim da história. Entretanto o protagonista resolve passar o seu aniversário visitando a terra onde nasceu e onde os seus pais morreram atropelados quando ele tinha doze anos. Ao chegar lá, fica surpreendido ao encontrar alguém extremamente parecido com o seu pai na altura em que morreu. O indivíduo leva-o a sua casa onde está a mulher…que também é extremamente parecida com a sua mãe quando morreu. Claro que uma situação destas deixa qualquer um confuso. O protagonista não sabe como se comportar e chega mesmo a perguntar o nome aos próprios pais que ficam indignados.

As visitas aos seus pais sucedem-se. Ele sabe que eles morreram mas sente uma certa felicidade e sente-se amado ao pé deles, o que não acontece com os vivos. Isso dá-lhe uma vivacidade incrível para trabalhar mas as outras pessoas notam que cada vez ele parece mais doente e mais magro. Aos seus olhos, tudo está bem e ele nunca se sentiu tão bem.

Ele desenvolve uma relação com a sua vizinha que ele não sabe que se suicidou e que o aconselha a deixar os seus pais porque acredita que se trata de espíritos demoníacos que o estão a destruir. Ele promete voltar a casa dos pais uma última vez para se despedir mas nunca consegue até que ganha coragem para tal quando finalmente repara que algo está errado com ele. Marcam um jantar num restaurante caro e são os pais que se desvanecem e despedem dele, deixando-o no restaurante sozinho perante o espanto dos empregados.

Completamente destroçado, volta a casa e refugia-se no amor da mulher que ele não sabe que também já faleceu. O mesmo amigo que começou a andar com a sua mulher depois do divórcio, preocupado com o estado de saúde dele, não o largou e descobriu através do senhorio do prédio que ele andava com uma fantasma- uma mulher que se havia suicidado pouco tempo antes. O amigo resolve agir e persegue-os até ao apartamento. Perante a força das orações, o espírito demoníaco da mulher também desaparece, prometendo deixá-lo em paz. Era este o espírito que o sugava, não o dos pais. Este sim era um demónio e o plano era vingar-se por ele a ter rejeitado e provocado a sua morte. Os pais apenas o protegiam.

Esta leitura foi bem positiva. Gosto sempre destas coisas e, neste livro está bem presente a cultura oriental no que diz respeito aos mortos e aos espíritos que é um pouco difícil de compreender para nós. Outro exemplo é este filme que vi há tempos. Os mortos no Oriente estão sempre ávidos de tirar a energia e a vida aos vivos.(ver texto "A Maldição Da Sétima Lua" (impressões pessoais))



Outra coisa que aqui salta à vista e que pode parecer estranha para nós, ocidentais, é o facto de não serem só os fantasmas de pessoas que aparecem. Repare-se que os pais do protagonista vivem num apartamento que pertence a um edifício que não existia desde há alguns meses. Quando o protagonista visitou o local com o amigo depois de tudo terminado, aquela zona não passava de um terreno descampado. Realmente aquele edifício existiu ali e os pais dele nunca ali moraram mas foi demolido escassos meses antes para dar lugar a uma construção mais moderna. Isto tem a ver com a crença de que tudo é energia. É aliás daí que resulta também o Reiki. Não são só os seres humanos que possuem a energia. Também os edifícios e outros objectos a possuem, as pedras principalmente e os edifícios são feitos de pedra. Deve ser por aí também. Enquanto que nós só acreditamos existirem espíritos de seres humanos (ou até de animais) para os orientais é perfeitamente normal haver um prédio ou um apartamento-fantasma como existe nesta obra.

Outro exemplo nesta obra ainda tem a ver com o apartamento da mulher. Ele vai com ela ao seu apartamento que é descrito ao pormenor na sua decoração. Não é por acaso. Dali a poucas páginas veremos que se trata de um apartamento que ficou vazio depois de ela se ter suicidado e que foi alugado por uma firma para escritórios. Dos quadros macabros que ali existiam nem sinal. Aliás, o protagonista quando regressa a casa um dia fica confuso ao ver alguém a carregar coisas para o terceiro andar onde supostamente morava a sua amante que ele não sabia tratar-se também de uma fantasma.

Passemos agora à realidade e vamos voltar a falar de Pinto Da Costa.

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