E cá estou eu na
minha árdua tarefa de narrar os episódios da minha vida passada que
surgem assim vindos do nada e que me assolam.
Já aqui falei das
minhas investidas sobre uma arca de madeira que, por acaso, ainda
existe lá em casa mas julgo que só tem roupa lá dentro agora.
De vez em quando, eu
ia à despensa, que era como se chamava ao escritório atual lá de
casa, e vasculhava a enorme arca de madeira. Encontrava quase sempre
as mesmas coisas: roupas velhas, umas calças verdes de ganga que o
meu pai comprou em Lamego porque rompeu as outras a saltar arame
farpado…
Houve um dia em que
achei um livro. Nessa altura, do que gostava mais dos livros era das
imagens. Jamais pegava num livro sem imagens como faço agora. O que
me fascinava naquele livro era o facto de as fotos terem muitos
filtros. Não eram fotos a cores. Eram fotos com filtros vermelhos,
amarelos, azuis, verdes…
A imagem que me
assola o espírito leva-me ao barracão da casa das minhas vizinhas-
hoje em ruínas. Ali me sentei a folhear o livro que, por o ter
achado há pouco tempo, não largava.
Para além da
memória visual assim surgida do nada, também me invadiu as narinas
o cheiro de papel arrumado e bafiento.
Não consigo
explicar por que é que isto me acontece. Resta tomar nota e aqui
trazer estes fragmentos de memória.
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